segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Nunca Mais !

Ricardo Antunes
Nunca mais na história deste país o pícaro e o trágico deverão apresentar-se em nome da esquerda
NUNCA ANTES na história deste país se elegera um presidente de origem operária e nunca antes tantas forças de esquerda tinham conseguido chegar ao Palácio do Planalto. Nunca antes na história deste país um candidato de origem popular participara de cinco eleições presidenciais, colhera três derrotas consecutivas e duas vitórias seguidas, contabilizando tantos milhões de votos. Nunca antes na história deste país um partido de esquerda -o Partido dos Trabalhadores- tivera tanta chance e legitimidade para começar a desmontar as sólidas engrenagens da tragédia brasileira e nunca defendera tanto as mudanças sociais e políticas dotadas de valores éticos e morais que travassem e obstassem a corrupção do Estado patrimonial brasileiro. Nunca antes na história deste país um presidente da República fora tanto a imagem e a semelhança do povo brasileiro. Nunca antes na história deste país um partido de esquerda (no governo) implementara uma política tão assistencialista -que nem sequer arranhou o verniz da nossa barbárie- e tão rapidamente se convertera em partido da ordem. Nunca antes na história deste país uma liderança política de origem operária e sindical sofrera um transformismo tão acentuado, que lhe desfigurou a própria alma. Nunca antes na história deste país o dito virou não dito. A antiga e bravia oposição virara tão serviçal situação e fora tão pateticamente tragada pela corrupção. O velho e moderado PCB saiu muito mais íntegro na longa história do chamado Partidão. Nunca antes na história deste país um governo e o comando de seu partido -que nasceu e se definia como sendo de esquerda- tinham arquitetado um projeto de corrupção do tamanho do mensalão. Até então, esse era um atributo próprio das direitas. Nunca antes na história deste país um presidente tão personalista e centralizador, tendo seu entorno mergulhado num lamaçal -ou pântano-, alegara tão singelo desconhecimento do que se passava na ante-sala de seu gabinete, mesmo sabendo que ele sempre tivera o controle pleno de tudo o que se decidia na cúpula de seu partido. Nunca antes na história deste país um governo de "esquerda" fora tão generoso com os lucros dos bancos e dos grandes capitais, tão camarada com os usineiros e por demais cordial com o agronegócios. Nunca antes na história deste país um governo que se originara de um partido de esquerda e de oposição erigira um modelo econômico reiteradamente elogiado pelo FMI e fora tão bom seguidor das políticas gestadas nos estranhos laboratórios do Banco Mundial. Nunca antes na história deste país o governo reduzira, em tão pouco tempo, o escandaloso número de miseráveis. Mas também nunca se aceitara que a mensuração da miséria brasileira estivesse próxima do patamar abjeto de R$ 125 per capita, menos de um terço do minguado e arrochado salário mínimo do outrora denunciador do "arrocho salarial". Nunca antes na história deste país um presidente, cuja liderança nasceu nas autênticas lutas sociais e políticas de oposição, ficara tão amigo do bárbaro presidente norte-americano e tivera tanta coragem de dizer que "nunca foi de esquerda". Nunca antes na história deste país um presidente da República, em meio a tanta mudez, falara tão diretamente com o povo. Algo próximo ocorrera somente com o velho Getúlio, em longo período, ou com o estranho e bizarro Jânio, em breve tempo. Ou ainda com o patético Collor, de modo quase relâmpago. Nunca antes na história deste país se tornaram tão acentuadas a falência e a degradação do poder parlamentar. Nunca mais na história deste país o pícaro e o trágico deverão apresentar-se em nome da esquerda, na face mais visível de um governo cujo principal partido que o sustenta se originara em tantas e autênticas lutas sociais e políticas.
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Artigo publicado hoje no Folha de São Paulo
RICARDO LUIZ COLTRO ANTUNES, 54, é professor titular de sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e autor, entre outros livros, de "Uma Esquerda fora do Lugar".

domingo, 28 de outubro de 2007

Será que a SIBS não devia ser nacionalizada?

O recente apagão da SIBS, mais um, pode solicitar uma pergunta: será que a SIBS não devia ser nacionalizada?
A pergunta pode parecer esquisita mas a verdade é que esta empresa presta um serviço público sobre o qual o Estado não parece ter controlo. É verdade que a Caixa Geral de Depósitos tem 21,60% do capital social, mas como temos visto a política CGD também não tem sido de serviço público. A não prestação desse vital serviço público lesa fortemente as pessoas - basta ver o que aconteceu com os apagões da rede multibanco.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

domingo, 21 de outubro de 2007

O PCP, o BE e o Tratado Reformador

A esquerda está a reagir de forma diversa ao Tratado Reformador.
Uns insistem na perda de poder dos países pequenos com o novo método de votação por duplas maiorias, na perda de deputados, na perda das presidências rotativas. Partindo de uma visão nacionalista Portugal perdeu, perdeu independência, perdeu soberania.
Outros reagem insistindo na origem anti-democrática do Tratado, que esconde do povo a sua real substância e faz da vacuidade socrática a unidade das burguesias europeias; utilizem elas partidos socialistas ou conservadores como correia de transmissão.
Em verdade a ausência de democracia marca o ponto fraco destas burguesias. Antes a derrota imposta pelos povos francês e holandês só era possível prosseguir sem democracia.
A democracia convoca a discussão e a responsabilidade popular, convoca as inteligências e traz a luta de classes para o centro do conflito – porque os políticos não são todos os mesmos. É um bom ponto de partida para discutir o Banco Central Europeu e as taxas de juro que estão a ser impostas, um exército europeu e as guerras imperialistas, a flexi-segurança e a destruição dos direitos dos trabalhadores…
Insistir na vertente nacional pode arregimentar gente saudosa do tempo do escudo e da existência de fronteiras em Vilar Formoso, pode diminuir espaços para que a extrema-direita não roube votos ao PCP, pode até fazer renascer ideias de saída da UE.
Na visão de cada partido, em particular PCP e BE, a oposição a este Tratado faz-se por argumentos diferentes, mas uma coisa é certa: existe um mercado único, uma burguesia europeia entrelaçada numa burguesia mundial, existe uma moeda única e um banco central. Também por isso é preciso existir um combate europeu ao capital, um combate europeu ao neoliberalismo, um combate europeu que junte forças sociais e partidos numa acumulação de forças.
Um combate que convoca os portugueses, para atacar no ponto mais fraco que a burguesia tem agora: a negação do referendo. A moção de censura que o BE anunciou é um a ideia positiva.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A saudação do PCP ao Partido Comunista da China

O Avante, desta quinta-feira, dá conta da saudação ao PCChinês:
«Ao XVII Congresso doPartido Comunista da China
Em nome dos comunistas portugueses, o Comité Central do Partido Comunista Português saúda calorosamente o XVII Congresso do Partido Comunista da China, formulando os melhores votos de sucesso aos seus trabalhos e à acção dos comunistas chineses em prol do desenvolvimento e progresso social, fortalecendo o objectivo proclamado da construção de uma sociedade socialista.«Estamos certos que o sucesso do processo de grandes transformações económicas, sociais, políticas e culturais na China, tornando já hoje a China um factor de primordial importância das relações internacionais, possui um inegável significado para a luta dos povos pela sua soberania e dignidade e é um contributo para a sua resistência à tentativa do imperialismo de reforçar a prática unilateralista e instaurar uma nova ordem mundial exploradora e totalitária.«Entendemos que no actual quadro internacional marcado por uma grande complexidade e acrescidas preocupações para os trabalhadores e os povos - quando se intensifica a escalada militarista e a inquietante ameaça de novas agressões e se multiplicam os perigos colocados à paz mundial -, assume uma renovada importância a necessidade do desenvolvimento e fortalecimento do relacionamento entre partidos comunistas e outras forças progressistas.«Em Portugal, deparamo-nos hoje com a mais violenta ofensiva contra as conquistas democráticas da revolução de Abril de 1974 e os direitos dos trabalhadores. Uma política de direita conduzida pelo Governo do PS que, agravando as desigualdades e injustiças sociais, fazendo disparar a precariedade e o desemprego, limitando e ameaçando o exercício de liberdades fundamentais e cavando a dependência económica de Portugal, tem vindo a afectar o nível de vida dos trabalhadores e populações, ao mesmo tempo que beneficia com escandalosos lucros o sector financeiro e o capital monopolista. «Não obstante as dificuldades que a situação apresenta, o PCP - profundamente empenhado na luta de massas e na ligação aos trabalhadores e às populações -, reforça-se no plano orgânico e na sua influência social e intervenção institucional. Vemos o reforço do Partido como condição fundamental para a mudança de rumo político no país e a afirmação do nosso projecto de uma democracia avançada para Portugal, que garanta o progresso social e a independência nacional, aproximando o horizonte da transformação socialista, iniciada há precisamente 90 anos com a Revolução de Outubro.«Reiterando o desejo de maiores êxitos aos comunistas, aos trabalhadores e ao povo chinês e confirmando a vontade de aprofundar as relações de amizade e cooperação entre o PCP e o PCC, enviamo-vos as nossas fraternais saudações.Outubro de 2007O Comité Central doPartido Comunista Português».
  1. O PC Chinês está a trabalhar para uma sociedade socialista? Então o que caracteriza o socialismo é a brutal exploração e repressão da classe operária?
  2. A China luta pela dignidade dos povos a nível mundial?
  3. A China está-se a opôr a esta ordem mundial e ao capitalismo?
  4. A China tem lutado pela paz mundial?

Realmente, nem a microscópico se consegue encontrar alguma coisa que se possa responder sim a qualquer uma das perguntas!