sábado, 6 de dezembro de 2008

A uma educação sem a cedilha


(ou gastar cera com ruins defuntos)


Acima das metáforas, a sério
e contra a prática da hipocrisia,
gostava de fazer uma poesia
que fizesse cair um ministério,


o que se esmera a ser a cobra prima,
legislador em prosa de leproso,
que é um triunvirato tenebroso,
que é uma cruz que nos caiu em cima,

que é o surdo e o cego e que persiste
sem vislumbrar além do seu umbigo,
sonâmbulo que só fala consigo
e faz de conta que mais nada existe.

Militante do turvo e do confuso,
alcandorado no seu trono imenso,
com poder em abuso e sem o uso
elementar do mais comum bom senso.

Examinam-se e surgem-nos exactas
as inexactidões dos próprios actos,
expressas nas erratas das erratas
que são os seus decretos caricatos.

A vida, corrigindo-lhes discursos,
há muito que os tornou ultrapassados.
Fazem sorteios e chamam-lhes concursos,
colocando o rigor nos sorteados.

A sua solução é concentrar
em cada professor um inimigo.
O propor... não o sabem conjugar.
Só o impor... e só se for castigo.

Mas a grande, a suprema solução
é a medida popular e mística
que sujeita o docente à retenção
e o aluno ao sucesso da Estatística.

Confundem as vitórias com derrotas.
Querem-nos quietos a contar migalhas.
Mas de quem malbarata as suas tropas
a história diz que não ganhou batalhas.

Bússola gasta que já não norteia,
são a troça que roça o antipático,
o atraso mental, a verborreia,
a veia irracional, o burocrático.

Repelentes, pretendem repelir-nos,
a raiva já subiu a titular,
mas, se nos querem cães, vão consentir-nos
o direito sagrado de rosnar.

Para além de ridículos e fúteis,
são à razão soberbos atentados
e, ainda que cancelem, só são úteis
quando eles próprios forem cancelados.

Eis o resumo de um triunvirato,
em que a perfídia é o que mais perfilha.
A sua lucidez é um hiato.
A sua educação é sem cedilha.


Euleriano Ponati

(chegado por e-mail)

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