O jornal Expresso traz uma notícia, segundo a qual, “Octávio Teixeira quer PCP sozinho na corrida eleitoral” posição que já teria sido assumida na Antena 1.A expressão orgânica ou eleitoral pública que as pessoas que se consideram comunistas tem variações na Europa e no tempo.
Lenine conviveu com um partido plural e de tendências. Estaline “achou melhor” fazer um alinhamento único e acabar com a pluralidade interna; de uma forma bem violenta, como se sabe.
Na Europa conhecemos partidos plurais, de afirmação comunista, como a Refundação Comunista. O PCEspanhol, por sua vez, actua numa frente eleitoral, a Esquerda Unida, profusamente dividida em tendências, organizações e nacionalidades. O PCF candidata-se por si próprio mas tem assegurado, até agora, acordos com o PS por exemplo para a 2ª volta das autárquicas. O PCdeItália vai agora juntar-se com a Refundação num partido novo. O PCdoBrasil, vive (viveu?) uma aliança de poder com o PT mas já lançou uma plataforma nova, o Bloco de Esquerda…
Em Portugal, os comunistas da UDP, e outros marxistas participam no Bloco de Esquerda, assumindo este como um partido plural, com um programa que se tem construído a partir das causas fundamentais da luta e não tanto pelo objectivo final e estratégico.
Enfim há vários matizes e entendimentos sobre a forma eleitoral de participação das pessoas que se entendem comunistas.
A notícia de que a CDU pode acabar traz outra possibilidade ao nosso olhar. As pessoas que dirigem o PCP poderão concluir que está ultrapassada a fase de que o partido necessita de uma plataforma eleitoral para não concorrer directamente às eleições; de que, o partido, por si próprio pode fazê-lo não necessitando de alianças eleitorais mais ou menos reais.
De facto, a CDU não constitui, na realidade, uma plataforma de aliança; a Intervenção Democrática, com o devido respeito, só existe no papel ou nem isso; o PEV é, na realidade, um destacamento de quadros para tentar captar os apoios à causa ambientalista e tentar ocupar um espaço político; os independentes, salvo raríssimas excepções, tanto participarão nos processos eleitorais com a CDU ou sem ela.
A mudança táctica no movimento sindical, abandonando a linha Álvaro Cunhal de dirigir politicamente com alianças e passando a dirigir orgânica e estruturalmente, poderá ser agora reflectida na táctica eleitoral. Um sinal disso mesmo poderá ter sido a manifestação que o PCP organizou no passado 1 de Março. Reconheça-se consequente com a campanha “sim é possível um partido mais forte” – ou seja a afirmação do partido. São mudanças que só temos que respeitar pois só aos próprios compete decidir.
Mas tudo isto motiva algumas perguntas interessantes, e que se podem fazer:
O que os comunistas necessitam hoje é de afirmação de um partido leninista? Ou seja, a luta de classes hoje tem expressão idêntica à luta de classes ao tempo em que Lenine elaborou as suas posições sobre o partido? O que é hoje o proletariado? Como é a organização da produção? Qual o papel da comunicação hoje e quais as consequências das profundas transformações que viveu? Como se estabelecem hoje, em Portugal, alianças sociais? Elas só têm expressão orgânica? A disputa de maiorias sociais depende, em que forma, da estrutura do partido ou da sua expressão eleitoral?
Procurando olhar a vida com um olhar real e dialéctico, procurando responder às interrogações da luta de classes hoje, tentando pensar de forma marxista – como Lenine pensou – e não tentando duplicar as soluções para a luta de classes daquele tempo, talvez nos saltem inquietações poderosas.
Às vezes podemos não saber as respostas, mas se soubermos começar a fazer as perguntas já estamos a avançar!
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