quinta-feira, 29 de maio de 2008

domingo, 25 de maio de 2008

O novo partido alemão, A Esquerda, esteve em congresso este fim-de-semana. Este partido, que junta várias forças à esquerda, tem um forte pendor operário e uma clara presença dos activistas do IGMetal. Possui hoje a presidência do Partido da Esquerda Europeia, uma "associação" europeia de partidos onde estão quase todos os principais partidos da esquerda europeia. De Portugal, só o BE participa.

É um partido a seguir com atenção. Em baixo a notícia do jornal Público.

"O co-presidente do partido radical de esquerda alemão Die Linke, Oskar Lafontaine, lançou ontem uma mensagem de unidade às suas forças, reunidas em congresso, "para mudar a política". "O vento da História sopra nas nossas velas, mas é precisa coragem para mudar a política", afirmou o líder do partido, que, criado em Junho de 2007, foi muito bem sucedido nas recentes eleições locais.Lafontaine -vindo do Partido Social Democrata, que presidiu - fez, aos 562 delegados reunidos em Cottbus, um balanço extremamente positivo do caminho percorrido em um ano pelo seu novo partido, fruto da fusão dos neocomunistas de Leste (PDS) e uma pequena formação radical da Alemanha ocidental (WASG)."Avançámos bem mas é preciso que não adormeçamos. Sejamos um partido que ousa ir contra o espírito dos tempos", exortou Lafontaine aos membros do partido, cuja unidade está por consolidar.O Die Linke, ainda sob os efeitos inebriantes de ter entrado em quatro parlamentos regionais no Oeste do país, é actualmente a terceira maior força partidária alemã, tanto em número de mandatos eleitorais - está em dez dos 16 parlamentos - como de membros (eram já 73.455 em Abril). E surge com 14 por cento das intenções de voto para as eleições legislativas de 2009, à frente dos Verdes e dos liberais do FDP, aliados tradicionais dos conservadores da chanceler alemã, Angela Merkel. AFP "

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Notícias da pobreza são o fracasso total do capitalismo português


As notícias de hoje sobre a pobreza em Portugal, com um excelente destaque no Público, são a maior demonstração da (in)competência do capitalismo português e dos seus homens de mão. Mais de 30 anos de governos PS, PSD, CDS, só produziram aumento das desigualdades apesar de, nunca como hoje, a produção tenha tantas capacidades de socialização. Nunca foi tão fácil produzir, nunca se produziram tantos e tão diferenciados bens mas nunca como hoje o capital estabeleceu tantas diferenças.

Os que apregoavam, emproados a derrota do "socialismo" têm aqui dentro de casa a sua própria derrota. Bem, na verdade, a sua vitória - pois a acumulação capitalista e o empobrecimento das massas é um objectivo dos capitalistas.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Governo Lula mantem ortodoxia financeira

Publicado em Correio da Cidadania
Primeiro foi o ‘Investment Grade’, gloriosamente anunciado pelos noticiários econômicos, em meio ainda às incertezas que cercam a economia internacional desde a explosão do mercado de hipotecas nos EUA. Uma pessoa qualquer que tivesse nesse dia chegado ao país e assistido aos jornais das grandes redes, muito provavelmente imaginaria ter desembarcado direto no paraíso.
Mal passados alguns dias, lança-se em grande estilo a Política de Desenvolvimento Produtivo, a partir da desoneração fiscal de vários setores e suporte financeiro do BNDES. Anuncia-se ainda a criação de um Fundo Soberano, para investimentos e apoio a empresas brasileiras no exterior, a ser financiado com o aumento do superávit primário (receitas menos despesas, exceto juros).
Recauchutagem de programas anteriores que rastejam ou ficaram esquecidos, ausência de especificações de critérios concretos de desempenho de setores que irão receber subsídios fiscais, todas essas são questões que, por óbvias, vêm sendo marteladas pelos colunistas da grande mídia.
Quanto ao Fundo Soberano, fará crescer a dívida pública interna, paga a elevadíssimas taxas de juros, para financiar atividades externas de algumas empresas a taxas bem menores. Para o ministro Mantega, no entanto, a operação de financiamento do Fundo é muito comum: trata-se da lógica do velho cofrinho, onde "você ganha o salário, faz as despesas e sobram os recursos. Aí você coloca no cofrinho. Vamos colocar no cofrinho o excedente".
A vida não costuma ser assim tão simples, sabemos todos. Para comentar, portanto, alguns dos aspectos mais complexos envolvidos nas novas medidas, especialmente quando contextualizadas pela atual conjuntura política e econômica, conversamos com o economista do IPEA e membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Guilherme Delgado.
Confira abaixo.


Correio da Cidadania: Como você enxerga as mais novas medidas de Política Industrial do governo, lançadas nessa segunda-feira, 12 de maio, com a desoneração fiscal de várias atividades até 2011– totalizando cerca de 21 bilhões de reais - e incentivos de cerca de 210 bilhões de reais do BNDES até 2010 para financiar os setores industrial e de serviços?

Guilherme Delgado: Do ponto de vista teórico, de se promover uma política de desenvolvimento e de incentivar o progresso técnico e as mudanças de competitividade do setor industrial, em princípio, são medidas positivas.

No entanto, o quadro conjuntural no qual nos inserimos e o formato dessas medidas que estão sendo alinhavadas, muito preocupadas em responder à pressão do déficit em conta corrente do balanço de pagamento e à conseqüente valorização cambial do real - o que, na realidade, tira o foco de competitividade do setor industrial -, me deixam bastante reticente com relação à sua eficácia. Isso porque, na realidade, não estão tocando no fenômeno cambial e monetário, que é o fenômeno bastante preocupante no que se refere à competitividade industrial; tocam apenas no lado fiscal, tentando gerar incentivos fiscais compensatórios, na expectativa de que os setores contemplados tenham projetos com mais alta taxa de retorno e voltem a ser competitivos no mercado externo.

Precisaríamos fazer uma análise ramo a ramo, mas o quadro que observamos hoje na economia brasileira, que não é recente, é o de deslocamento da chamada competitividade industrial para aqueles setores de relação mais forte com o agronegócio, por terem tradicionalmente um coeficiente muito baixo de importações e uma presença e avanço mais fortes no setor externo, através das exportações. Tanto que os setores industriais têm estado relativamente precários e fortemente dependentes de importações, até pelo próprio fato de ter havido uma abertura e liberalização muito grandes no setor industrial, o que fez com que várias cadeias fossem perdidas, desmontadas, perdendo potência competitiva.

Nesse sentido, reafirmo que a idéia é, teoricamente, positiva, mas, em função da conjuntura que vivemos, não há certeza de que será eficaz nesse formato em que está sendo desenhada.

CC:Foi também anunciada a criação de um Fundo Soberano, que parece parte dessa pretensa Política Industrial, como forma de apoiar a expansão de empresas brasileiras no exterior. O que vem a ser exatamente esse fundo e qual a sua avaliação sobre o mesmo?

GD: O Fundo é parte de uma briga interna do Ministério da Fazenda com o Banco Central. O BC tem total incumbência e responsabilidade em gerir reservas externas, totalmente descompromissado da política industrial e de políticas de desenvolvimento, e o que quer o Ministério da Fazenda é pegar parte dessas reservas e aplicá-las no BNDES para financiar empresas no exterior.

CC: Por sugestão do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, boa parte dos recursos desse Fundo Soberano viria a partir de economia fiscal – a meta do superávit primário, hoje em 3,8% do PIB, seria ampliada para 5% do mesmo. Ao mesmo tempo, esse novo pacote de medidas do governo prevê a renúncia fiscal. Como essa conta vai ser fechada?

GD: Em princípio, a idéia do Fundo Soberano é boa. No entanto, o Fundo ser apoiado pelo aumento do superávit primário é preocupante, pois, dessa forma, você retira recursos fiscais que de alguma forma alimentam a demanda efetiva interna – investimentos, infra-estrutura, gastos na política social e outros – e injeta diretamente no setor externo da economia. Ou seja, há um preocupante deslocamento de prioridades. Claro que o Fundo Soberano precisa investir, mas deveria investir dentro da meta de superávit primário já existente, isto é, utilizar-se de um pedaço desse recurso para financiar o BNDES, sem aumentar ainda mais o superávit primário do orçamento fiscal.

O que eles dizem é que, se usarem o superávit primário e não a dívida pública, terão uma base fiscal para financiar esses dólares. Essa é a idéia de usar o superávit primário adicional, que geraria os reais para não impactar a dívida. Mas o aumento do superávit primário, já alto, numa economia que precisa se expandir, que tem uma demanda interna em expansão, é uma medida contracionista, criando um processo muito ambíguo.

CC Não se estaria acobertando a idéia de se aumentar ainda mais o superávit primário sob o manto do desenvolvimentismo?

GD: A verdade é que se acaba deixando tudo igual. Conserva-se a política de juros, a valorização cambial, aumenta-se o superávit primário... Isto tudo acaba sendo uma ação entre amigos, em vez de ser uma política de forte reversão das tendências estagnacionistas e de dependência, ou de alavancar o desenvolvimento.

São duas idéias boas, política industrial e fundo soberano, mas, nessa versão e em nossa atual conjuntura, são remendos de tecido novo e velho, cuja conseqüência é aumentar o rasgo, e não costurar o tecido.

CC: Há ainda parte dos recursos desse Fundo que seriam originários da compra direta de dólares pelo Tesouro no mercado de câmbio: ou seja, uma operação tradicional, financiada pela emissão de títulos públicos e com novo impacto altista na dívida pública interna.

GD: O que ocorre realmente ao final é que a dívida tem que ser financiada por tributos ou por nova expansão da dívida. E no caso da expansão da dívida interna, advém um novo custo fiscal uma vez que há um diferencial de juros muito alto entre o mercado interno e o externo. Assim, do ponto de vista de uma verdadeira política de desenvolvimento, o formato no qual está sendo baseado esse Fundo é bastante ambíguo.

CC: Recém anunciado também com grande destaque no noticiário econômico nos últimos dias foi o ‘Investment Grade’ para o Brasil. O que significa esse anúncio no atual momento a seu ver e quais podem ser possíveis efeitos para nosso país? O Brasil está passando incólume pela crise internacional ou virou, de alguma forma, a menina dos olhos do capitalismo financeiro internacional?

GD: ‘Investment Grade’ é uma tábua de salvação que aumenta o tamanho da corda no pescoço. Ele chegou num momento em que o país reverteu, e de forma explosiva, o superávit para déficit na conta corrente. Tivemos no ano passado um superávit de 3,5 bilhões e, nesse primeiro trimestre de 2008, o déficit acumulado é de 15 bilhões, projetando-se 25 bilhões ou mais até dezembro. Na realidade, se esse déficit em conta corrente tem relação, e sabemos que tem mesmo, com a valorização cambial, com a política de industrialização e tudo mais, a emergência da novidade do ‘Investment Grade’ nas operações financeiras internacionais vai aumentar a valorização cambial. Isso acontece, pois se abrem as portas para a entrada de mais dólares, sem que se tenham equacionado os demais fundamentos da economia, principalmente a causa primária desse déficit na conta corrente, como, por exemplo, as remessas de lucros. Com a abertura da conta de serviços vis-à-vis programas de importações industriais que visam a um processo de desmontagem de cadeias industriais pela liberalização, como se vai combater esse quadro com entrada de investimento direto a qualquer custo?

Decorrerá daí mais valorização do câmbio e maior inibição das exportações, e não a diminuição do déficit em conta corrente.

Vejo esse momento com preocupação, porque a alegria e euforia me parecem um pouco equivocadas. Que estejam eufóricos os capitais que vêm aqui até posso entender, pois não estão perdendo tempo, já que têm uma tradição de ir e vir na hora que quiserem, levando bons rendimentos.

Porém, para o país como um todo, nesse momento, estamos entrando num ciclo de reversão da política econômica, pois, para combater o déficit em conta corrente e as pressões trazidas por ele, a tendência é reforçar a cobertura que se fez desse déficit pelas exportações de commodities. Ou seja, a tradição da nossa política macroeconômica em face desse déficit é acelerar a exportação de commodities primárias, alavancando o setor agrícola, especialmente agora, com a pressão dos preços de alimentos. E outra das tradições é elevar a taxa de juros para coibir ou contra-atacar a pressão dos preços dos alimentos.

Essas duas medidas que estão em curso e devem ser alinhavadas mais adiante têm um caráter de inibição do crescimento da demanda interna e do crescimento econômico. Combatem conjunturalmente o aumento de preços dos alimentos, mas não combatem a causa, que está ligada à super-alavancagem das exportações agrícolas, utilizada exatamente para cobrir o déficit estrutural em conta corrente, que agora recrudesceu de forma acentuada.

Portanto, na realidade, esse arranjo macroeconômico do setor agrícola, do setor externo da economia, que aparentemente tivera sucesso até 2007, corresponde a um modelo primário-exportador sem futuro, pois não tem a capacidade de servir ao capital estrangeiro no formato em que se desenhou o programa. O que temos é o setor agrícola, do agronegócio, exportando e o capital estrangeiro gerando déficit em conta corrente. No entanto, chega-se num momento em que se geram pressões tão desmesuradas que a forma de conter esse quadro é novamente abortar o crescimento econômico.

CC: Para encerrar, podemos então dizer que nos deparamos novamente com medidas que mais parecem uma recauchutagem de antigas políticas, que não mexem estruturalmente com a nossa economia? Muda-se tudo pra deixar tudo como está?

GD: Exatamente. A idéia que foi conjuntural hoje é comprada por meio mundo como idéia estrutural. O Brasil passa a ser um exportador líquido de carne - bovina, de frango etc. -, álcool e minerais. A partir desses setores, que têm alta competitividade ou vantagens comparativas naturais, lança-se um saldo expressivo de dólares para cobrir o déficit estrutural da conta corrente.

Mas esse déficit precisa ser estrutural ou resolvido? Em primeiro lugar, será impossível alavancar o setor primário para fazer essa cobertura. Em segundo lugar, ou se encontra um sentido, um futuro, para esse formato de desenvolvimento econômico, ou, ao primeiro espirro da crise financeira, ele vai explodir. São esses cenários que estamos vendo.

Podem acumular as reservas que quiserem, porque esse ajuste macroeconômico em cima do agronegócio, com o setor industrial de alta tecnologia sendo relativamente descartado, não tem substância. Cobre-se uma situação de emergência e depois se passa a uma política de restrição do crescimento, pura e simplesmente para poder gerir a conta corrente.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

As bombas da ETA


A ETA fez detonar mais um bomba, agora em Getxo, província de Vizcaya. A ETA, com sua política de terror só consegue ajudar o domínio castelhano. As bombas da ETA não afectam o poder e o regime "espanholista" - só lhe dão força. Matar imigrantes, cozinheiros e militantes de forças opositoras só abre espaço à direita, ao PP, à xenofobia e às medidas repressivas e limitadoras das liberdades individuais e colectivas tão na moda. As bombas no aeroporto de Madrid só podem ser consideradas como um atentado fascista.
Fazer política com base no sangue, pode fazer muitas notícias - mas não ganha massas, antes as empurra para o domínio ideológico nos órgãos de informação. Fazer política com base na vitimização e na multiplicação de heróis presos pode polarizar - mas condena centenas e centenas de lutadores ao isolamento das massas e à destruição das organizações. Fazer política com base na identidade étnica pode polarizar e criar espírito de "corpo" - mas não é progressista, é reaccionário.
Basta visitar, por alguns dias, Bilbau, San Sebastian, Guernica, para perceber que existem ali traços de um povo com identidade e com língua própria. Mas a estratégia da ETA só conduz à derrota e ao isolamento.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Visita de estudo do PCP à China !!! ???


Uma delegação do PCP está em visita de estudo à China. Quem o diz é o Avante aqui. Só podemos desejar que a delegação não aprenda nada. Senão quem beneficiará dessa aprendizagem será Belmiro de Azevedo e outros que tais.

Vilarejo - Marisa Monte (Palestina shangri-lá)

A recomendação da Ana Mesquita, hoje na RDP.
(desligar primeiro a rádio ideal comum)

Pinto da Costa no Parlamento


Pinto da Costa foi recebido no parlamento, poucos dias depois do desfecho do "apito final". Os deputados do PS Rosa Albernaz e Artur Penedos fizeram as honras de alguns dos deputados com inclinação portista. Não se sabe se as conversas falaram de falcatruas em jogos, compras de árbitros, ofertas de gajas (ah, não é meninas é fruta) ou corrupção. O que se sabe é que este jantar tem um significado político - pois assim o quiseram ao fazê-lo no parlamento. E o significado político que dele se pode tirar é que Pinto da Costa está com os seus. É o regime numa das suas significativas facetas.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Adeus socialismo?


É assim o nome do recente artigo de Vital Moreira no Público. Um artigo cheio de falsidades e de derrotas escondidas.
Vital Moreira (VM) diz que “o socialismo democrático não se afundou juntamente com o desabamento quase universal do comunismo”. Esta frase tem vários enganos.
Em primeiro lugar o dito socialismo democrático está a ser derrotado estrondosamente em toda a Europa, as últimas eleições da França, da Itália ou da Inglaterra mostram que a vontade enorme dos partidos da Internacional Socialista em se deitarem na cama do neoliberalismo só resultou em irem parar ao tapete; depois de terem proporcionado ao capital os prazeres mais pornográficos. O caso espanhol, com alguma abertura nos costumes e nas nacionalidades, para que a burguesia moderna e liberal derrota-se a burguesia conservadora permitiu-lhe sobreviver. O caso português é o que se conhece. Mas em todos os casos são os partidos “socialistas” e social-democratas que estão a cavar a sua própria sepultura.
O segundo engano é que o comunismo enquanto projecto de poder não desabou quase universalmente – desabou mesmo universalmente. Isto porque não consideremos ditaduras como a chinesa ou a norte-coreana como experiências socialistas. Mas se o comunismo perdeu o comunismo recuperará; porque vai resgatar os ideais comunistas, vai limpar o nome das atrocidades e dos desvios e vai recompor-se como projecto emancipatório para milhões de pessoas.
VM diz que a adesão dos “socialistas” à disciplina monetária, à nova gestão pública, à competitividade empresarial… é “apenas exigência de bom governo – nada disso exige o abandono dos traços propriamente socialistas de esquerda”. Ora está à vista o bom governo, a fome alastra, o desemprego alastra, a pobreza alastra, as diferenças entre pobres e ricos alastram, os problemas ambientais alastram, a guerra tão ao jeito da “cama imperial” só alastra morte e exclusão humana. Bom governo isto? Os ditos socialistas são dos maiores derrotados da história.
E a esquerda que se lhe colou, na esperança dos governos de disputa, na esperança do mal menor saíram derrotados como eles. O exemplo italiano é paradigmático.
O futuro só pode mesmo ser da esquerda, da esquerda que não se verga, da esquerda que abra novas saídas, da esquerda que procura novas alianças contra o neoliberalismo, da esquerda que se abre aos movimentos e à energia das massas e da juventude. Aí está a vitória.

Não é uma questão de fé, é de razão material!

domingo, 11 de maio de 2008

A derrota de Londres


texto publicado no portal esquerda

O New Labour - o modelo político em tempos abraçado por Veltroni na Itália - sofreu uma derrota esmagadora. O projecto de Blair de promover e implementar políticas de direita, pressupondo que os eleitores da classe trabalhadora tradicional se manteriam fiéis, morreu em Maio de 2008. Nas eleições locais, a votação dos trabalhistas despenhou-se para 24%, um ponto abaixo dos Liberais Democratas e 20 pontos menos que os conservadores (44%). Dada a dimensão da catástrofe, parece pouco provável que Gordon Brown possa vencer as próximas eleições gerais.
Espantados com Margaret Thatcher, Blair e Brown copiaram as suas medidas para dentro do seu próprio partido, espremendo para fora de si próprios, gota a gota, as velhas ideias social-democratas. Todos se tornaram fundamentalistas do mercado. As desregulamentações e as privatizações tornaram-se um mantra e nos últimos dez anos a divisão social entre ricos e pobres aumentou mais do que sob o governo de Thatcher. A redistribuição da riqueza deixou de estar na agenda trabalhista.
Quando o mercado sofreu uma série de choques - o colapso de um banco britânico coberto de dívidas, o Northern Rock, levou a uma intervenção estatal na forma de nacionalização. Ninguém retirou lições. A ajuda aos ricos através de maiores cortes de impostos, o abandono (sob pressão do Financial Times) de planos para cobrar impostos sobre os bilionários não-domiciliados simbolizaram o regime. O modelo neoliberal atomizou a vida social e política, enfraqueceu a responsabilidade democrática e reduziu drasticamente as margens das possibilidades reformistas dentro do sistema. Depois do 11 de Setembro, as liberdades civis degradaram-se seriamente. Há algumas semanas, Brown e os seus ministros estavam a defender o aumento do período de 42 dias de detenção de suspeitos sem acusação. Os conservadores e os chefes da polícia opuseram-se, achando que eram medidas demasiado draconianas.
O sistema eleitoral britânico ajudou a ocultar o inexorável declínio do apoio popular à agenda blairista. Já não oculta mais. O Imperador do New Labour foi agora exposto sem roupas. O poder pode modelar a "verdade", mas não para sempre. Esta é a lição da derrota trabalhista.
Em Londres, a escolha era clara. Boris Johnson é uma estrela de comédias de TV, uma celebridade conservadora que cultiva cuidadosamente uma imagem ultra-reaccionária. Dada a forma como os políticos se tornaram impopulares em tantas partes do mundo, não é surpreendente que o estatuto de celebridade e a riqueza tenham ocupado o centro do palco. Um patético e ineficaz ex-polícia candidatou-se pelos Liberais Democratas e Ken Livingstone foi o candidato do Labour. Apesar de Livingstone ter ganho as últimas eleições como independente contra o New Labour, decidiu depois fazer as pazes com Blair e voltou ao partido, apesar de manter uma postura independente em relação às guerras do Iraque e do Afeganistão, e de desenvolver a sua própria política externa, convidando Hugo Chávez a visitar Londres.
As eleições para presidente da Câmara de Londres reflectiram o humor nacional. É óbvio que Livingstone cometeu erros. O maior de todos não foi o de receber um excêntrico clérigo muçulmano, enfurecendo a imprensa de direita; foi o de reentrar no curral do Labour. A base da sua popularidade repousava no facto de ele não ser um político manufacturado pelo New Labour. O facto de a margem da sua derrota ser menor do que a média nacional reflecte este aspecto, mas não foi suficiente para salvá-lo. Ele sofreu por estar associado ao governo impopular dos trabalhistas. Se se tivesse mantido independente e atacado os regimes de Blair e Brown, em vez de se deixar fotografar com eles, teria ganho.
Uma cidade onde 70% dos cidadãos se opõem à presença britânica no Iraque será agora representada por um presidente da Câmara pró-guerra. Quem se importa se um milhão de iraquianos morreram desde a ocupação do seu país, que haja três milhões de refugiados e que aquele sofrido país enfrente as mais horrendas condições na sua vida diária. Tudo o que estivava associado ao New Labour foi punido.
Tariq Ali, 4/5/2008
Tradução de Luis Leiria

segunda-feira, 5 de maio de 2008

O Benfica continua em 3 frentes


Talvez seja o primeiro post futebolistico mas este, retirado do "Comida na Pedra" é de partir o caco. Seja lá de que clube se fôr:

"Ora tomem lá seus invejosos...

Falam, falam, falam,
mas o Benfica continua em três frentes:
- Frente ao Colombo
- Frente à Repsol
- Frente ao Media Market"

Na verdade são 4 frentes: a 2ª circular também conta!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

O que temos para comemorar no 1º Maio?


RICARDO ANTUNES, publicado na Folha de S. Paulo

Vivemos uma explosão de denúncias sobre o aviltamento do trabalho. O espetáculo se esparrama por todas as partes

VIVEMOS uma explosão de denúncias sobre o aviltamento do trabalho. A cada dia vemos mais exemplos de trabalho escravo no campo, nos rincões do latifúndio. No agronegócio do açúcar, cortar mais de dez toneladas de cana por dia é a média por baixo, "low profile".
No final do ano passado, esta Folha descreveu a degradação do trabalho imigrante, especialmente boliviano, nas empresas de confecção em São Paulo. Jornadas de até 17 horas diárias em troca de casa e comida. Trabalho imigrante no limite da condição degradante.
Mas o espetáculo é multifacético e se esparrama por todas as partes: "chicanos" nos EUA, decasséguis no Japão, "gastarbeiters" na Alemanha, "lavoro nero" na Itália, "brasiguaios" no Paraguai -a lista não tem fim.
Sem falar nos desempregados do Leste Europeu que invadem o "pequeno canto do mundo" ocidental em busca dos restos do labor.
Se nos inícios do século 20 os povos do Norte migraram em massa para o Sul, encontrando acolhida, agora presenciamos o exato inverso, pois o fluxo migracional mudou de direção. Os deserdados do Sul tentam furar os bloqueios do Norte, cujo exemplo mais abjeto é o muro da vergonha que separa os EUA do México.
Ou, mais sutil, mas também cruel, a barreira das polícias alfandegárias nos aeroportos do chamado "mundo civilizado", obstando a entrada dos "bárbaros" do fim do mundo. O exemplo da Espanha contra brasileiros é a mais recente expressão fenomênica do problema e fala por si só.
Mas há uma autêntica conquista da chamada globalização: enquanto os capitais migram com velocidade mais ágil que a dos foguetes, o trabalho deve mover-se no passo das tartarugas.
Capitais transnacionais livres e trabalhadores nacionais cativos. Num mundo cada vez mais maquinal, informacional e digital, presenciamos também a explosão do "cybertariado" (Ursula Huws), trabalhador qualificado da era da cibernética que vivencia as condições do velho proletariado. A informalização, dada pela perda de liames contratuais de trabalho, vem aumentando em escala global, num contexto de ampliação de todas as formas de terceirização, gerando as mais distintas modalidades de trabalho precário, que se desenvolvem com a chamada polivalência da era flexível.
No Japão, jovens operários migram em busca de trabalho nas cidades e dormem em cápsulas de vidro, do tamanho de um caixão. São os operários encapsulados. Do outro lado do mundo, na nossa América Latina, encontramos trabalhadoras domésticas (mulheres e crianças) que atingem a jornada semanal de 90 horas de trabalho, com um dia de folga ao mês (Mike Davis), numa era em que poderíamos trabalhar dez vezes menos, se a lógica predominante não fosse tão destrutiva para a humanidade que depende de seu trabalho para sobreviver.
São essas algumas cenas do trabalho hoje. E ninguém poderá buscar um emprego, atualmente, se não demonstrar que realiza "trabalhos voluntários". É curioso: para conseguir emprego, são "obrigados" a realizar trabalhos "voluntários".
E isso sem falar na explosão do estagiário, candidato fresquinho a roubar um trabalho efetivo com remuneração de escravo. Ou nas tantas manifestações de desigualdade de gênero, em que as mulheres trabalham mais, com menos direitos e reduzida remuneração. Sem falar das diferenciações étnicas e raciais.
Quero terminar indicando só mais um exemplo de trabalho degradado: a crescente inclusão de crianças no mercado de trabalho global, nos países latino-americanos, asiáticos, africanos, bem como nos países centrais, como EUA, Inglaterra, Itália, Japão, sem falar na China, Índia etc.
Não importa que o trabalho adulto se torne supérfluo e que muitos milhões de homens e mulheres em idade de trabalho vivenciem o desemprego estrutural. Mas os meninos e meninas devem, desde muito cedo, fazer parte do ciclo produtivo: seu corpo brincante transfigura-se muito precocemente em corpo produtivo para o capital (Maurício da Silva).
Na produção de sisal, na indústria de calçados e confecções, no cultivo de algodão e cana, nas pedreiras, carvoarias e olarias, no trabalho doméstico, são inúmeros os espaços em que o trabalho infantil valoriza o capital.
Na indústria de tapeçaria da Índia, lembra Mike Davis, as crianças trabalham de cócoras em jornadas que chegam a 20 horas por dia. E na indústria do vidro, trabalham ao lado dos tanques com temperatura próxima de 1.800 graus centígrados ("The State of the World's Children - 1997", Unicef). Seriam, então, esses exemplos excrescências dentro de uma ordem societal preservadora do trabalho?



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RICARDO LUIZ COLTRO ANTUNES, 54, é professor titular de sociologia do trabalho do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor, entre outros livros, de "Os Sentidos do Trabalho".