sábado, 28 de julho de 2007

O Dia em que Dorival Encarou a Guarda, parte 1

Género Ficção
Director Jorge Furtado, José Pedro Goulart
Elenco João Acaiabe, Pedro Santos, Zé Adão Barbosa
Ano 1986
Duração 14 min
Colorido
Bitola 35mm
Brasil

Todo homem tem o seu limite, e Dorival resolve enfrentar a tudo e a todos para conseguir o que quer. A história da luta desigual de um homem contra um sistema sem lógica e sem humanidade.

O dia em Dorival enfrentou a guarda, parte 2

Filme da Amnistia Internacional

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Cobaias humanas: uma tragédia africana



Escrito por Luiz Eça em correio da cidadania

A Pfizer, giganteca multinacional do setor farmacêutico, está sendo processada criminalmente pelo governo nigeriano por testes clínicos com conseqüências altamente nocivas. Em 1996, durante uma epidemia de meningite em Kano, Nigéria, 200 crianças doentes foram objeto dos testes de uma nova droga da Pfizer,o Trovan.
A metade delas foi tratada com o Trovan. A outra com um medicamento concorrente do qual foram aplicadas doses abaixo do necessário, com o objetivo de se garantirem resultados inferiores.
Detalhe: a Pfizer não informou aos paíi das crianças que se tratava de um teste, embora sabendo que o Trovan apresentava efeitos colaterais prejudiciais à saúde e poderia ser impróprio para uso humano, nem que existia um produto comprovado e relativamente barato, o clorofenicol.
Em sua defesa, a Prfizer alega que o estudo clínico do Trovan foi aprovado, conforme carta assinada pela comissão de ética do hospital onde os testes se realizaram, o que era estranho, já que esse hospital não tem comissão de ética...
Informa também que o Trovan estava no último estágio do seu desenvolvimento, havendo “provas científicas de que daria um tratamento seguro”.
Nem tanto, uma vez que muitas das crianças-cobaia morreram ou sofreram danos permanentes como cegueira, surdez e paralisia. Graças ao sacrificio das crianças africanas, o Trovan nunca foi aprovado para uso das crianças americanas.
Para adultos, foi, porém, só até 1997, quando repetidos casos de morte e danos ao fígado forçaram sua proibição total.
Este trágico desrespeito à pessoa humana não é único na África e em alguns países asiáticos pobres. Muito pelo contrário.
Na Tailândia, por exemplo, uma droga potencialmente eficaz contra dores, o dipirone, foi testada inclusive em crianças de 4 a 7 anos. Muito grave, pois o dipirone foi banido em mais de 10 países, sendo seu uso severamente restringido em 10 outros devido a efeitos colaterais potencialmente fatais. Pelo menos dois desses testes foram patrocinados pela alemã Hoescht, líder mundial na produção de dipirone.
Em 2005, a Nigéria suspendeu os testes com o Tenofovir, um antibiótico usado no tratamento da Aids, devido a graves problemas éticos constatados durante sua realização. O mesmo aconteceu no Cameron. Aqui, as participantes, todas de língua francesa e muitas analfabetas, receberam informações, por escrito e em inglês, sobre os riscos envolvidos e seus direitos, o que viciou a adesão ao teste. Os problemas não foram corrigidos e os experimentos – de responsabilidade do laboratório americano Gilead Sciences – prosseguiram no Cambodja, Botsuana, Malavi e Gana.
O extraordinário aumento na invenção de novas drogas exige um correspondente aumento de testes clínicos para conseguir a aprovação das instituições oficiais dos grandes mercados dos Estados Unidos e da Europa.
Para cada teste de cada droga nova, são necessários cerca de quatro mil voluntários. O problema é que pouco mais de um entre vinte norte-americanos aceitam participar. O mesmo não acontece na África e na Ásia, onde o baixo pagamento oferecido é disputado pela população extremamente pobre da maioria desses paises.
Por isso, as multinacionais farmacêuticas estão cada vez mais realizando ali grande parte dos experimentos com seus novos produtos.
Além da economia e da facilidade de se recrutarem cobaias humanas, os países africanos e asiáticos oferecem outras vantagens. A rapidez é uma das principais. Enquanto que nos Estados Unidos, por vezes, levam-se anos para reunir voluntários suficientes para um experimento, na Africa e na Ásia esse prazo é reduzido, geralmente, para menos de duas semanas. Rapidez é particularmente importante num mercado em que os laboratórios desenvolvem drogas praticamente iguais competindo entre si para poderem lançar a sua marca em primeiro lugar.
Mas os pontos pró-Africa ou Ásia são muitos quando se analisa o melhor lugar para se testar novas drogas. Eis mais alguns:
- a supervisão americana e européia dos testes é mínima. Em 2001, um pesquisador da John Hopkins testou uma droga anti-câncer em pacientes doentes no estado indiano do Kerala, antes de ela ter sido experimentada em animais. Só foi descoberto depois de aplicar a droga muitas vezes;
- os regulamentos de controle locais são pouco exigentes e facilmente contornáveis;
- no Ocidente, de 40 a 60% dos voluntários abandonam os testes clínicos no meio, em função de efeitos colaterais desagradáveis ou pelas dificuldades de se deslocar até a clínica. Em países como a Índia, as companhias de testes clínicos mantêm 99,5% dos inscritos. Muitas vezes isso acontece porque não lhes foi informado que não estavam obrigados a ir até o fim. Num estudo sobre testes de prevenção contra Aids na África do Sul e em Bangladesh, verificou-se que 80% das pessoas disseram que não sabiam que podiam desistir.
- muitos dos hospitais e clínicas onde se fazem testes não contam com comissões éticas, capazes de exercer fiscalização para garantir que sejam prestadas informações completas aos participantes. Na Índia, em 1980, um anticoncepcional injetável — já retirado do mercado — foi testado em aldeãs que afirmaram que “não faziam idéia de que estavam participando de um teste”.
O mais irônico é que, além de arriscarem sua saúde e até sua vida nos testes clínicos, os africanos não auferem nenhum beneficio, mesmo quando os novos medicamentos apresentam bons resultados.
É que custam caro, foram feitos para os habitantes dos países ricos, não para pobres negros ou asiáticos. Para as multinacionais farmacêuticas, eles são apenas cobaias, que exigem cuidados apenas maiores do que ratos de laboratório...
Seis séculos de dominação não foram suficientes para europeus e americanos esgotarem seu arsenal de crueldades para com africanos e asiáticos.
Primeiro, escravizaram seus povos, depois destruíram suas sociedades, roubaram suas riquezas; por fim, concederam a independência, mas dividiram suas nações, corromperam seus líderes; agora, usam seus habitantes como cobaias, como se fossem animais.
O que virá em seguida?

domingo, 22 de julho de 2007

Ganhar massas para a oposição ao governo



Que o PS estava a ultrapassar a direita, pela própria direita, já estava a ser denunciado pela esquerda. Que fosse Bagão Félix a vir adjectivar as propostas da comissão, dita técnica, nomeada por Sócrates, para o livro branco do código de trabalho, de “arbítrios inaceitáveis” é coisa que ainda estava para vir.
Mais ainda, no final da sua entrevista de hoje ao DN, Bagão lembrou: “na altura da minha revisão, o PS votou contra e o actual ministro, que era deputado, disse: um dia que sejamos governo vamos repor tudo aquilo que o senhor tirou aos trabalhadores”. Agora afirma-se “curioso” para ver o que vai acontecer.
As primeiras propostas constantes do chamado relatório de progresso da comissão do livro branco são já conhecidas. Diminuição das férias e do subsídio, desregulação do horário de trabalho tornando o trabalhador um mero pau mandado da vontade do patrão, simplificação dos despedimentos…
Carvalho da Silva apelidou, e bem, as propostas como um “cardápio de maldades”. As propostas da comissão estão em coerência com a política do governo. Essa política abre espaço para que as confederações patronais venham agora exigir o fim da constitucionalidade da proibição do despedimento sem justa causa. Confrontados com a reacção da esquerda no parlamento, e o entalanço feito ao governo, os patrões corrigiram o tiro: querem despedir à vontade – não é preciso rever a Constituição. Ou seja mantêm-se o princípio da proibição de despedimento sem justa causa ou por motivos políticos e ideológicos - a justa causa é que passa a ser qualquer coisa.
A resposta da classe trabalhadora não é fácil. A última greve geral não acumulou forças – pelo contrário. Manter uma ilusão para “não dar parte fraca” ou para sustentar uma resposta aparentemente radical só vai dar mais prejuízo no futuro. Uma resposta de classe não se sustenta na ilusão dogmática.
As propostas governamentais precisam, da nossa parte, de um intenso esclarecimento dos trabalhadores. Vamos ter necessidade de lutar – ainda que saibamos que dificilmente o governo mudará de política. O próprio governo já desencadeou medidas mais reaccionárias em cima de dias de protesto – os professores bem o sabem. A mensagem é clara: “não vale a pena vocês protestarem contra as nossas medidas, ainda as agravamos mais”.
Antes que seja tarde os trabalhadores precisam de assumir a sua dignidade. Temos muito a perder. Vai ser preciso lutar. Vai ser preciso ganhar os inseguros e os precários, os que não sabem ou não olham para a política. Vai ser preciso ganhar massas.

sábado, 21 de julho de 2007

A tragédia e o seu ambiente

Escrito por Léo Lince em www.correiocidadania.com.br
20-Jul-2007
Tragédia é tragédia. Diante dela, o primeiro impacto sobre o cidadão é o da dor indizível dos familiares das vítimas do desastre, o maior até agora registrado na história da nossa aviação. O desaparecimento abrupto de valiosas vidas humanas é uma explosão de sentimentos que se espalha para muito além das labaredas do sinistro. O quadro de comoção pública, tecido nas malhas da humana solidariedade, se expressa como dor coletiva diante da brutalidade do acontecimento.
Entre as muitas declarações recolhidas nos jornais, por sobre a mudez das autoridades maiores, uma chama particular atenção. É a de um ex-piloto da aviação civil, agora escritor, que afirmou: “a tragédia é um grito do sistema doente”. Faz sentido e suscita reflexões. As investigações, sempre demoradas, sobre as causas concretas do desastre são tarefas para especialistas. Sobre elas se depositam as esperanças de que providências específicas sejam tomadas, mas seu escopo é limitado: elas atuam sobre o “grito”.
Sobre a “doença do sistema”, o ambiente gerador deste e de outros desastres, não carece aguardar a conclusão das demoradas investigações para a tomada de posições, que são tarefas da cidadania. Os indícios do desacerto são por demais portentosos. A crise definida como “apagão aéreo” é apenas uma das muitas manifestações desta quadra terrível, marcada pela privatização e amesquinhamento do poder público.
A supremacia absoluta do poder público, indispensável ao ordenamento dos contraditórios interesses privados, é vista como um estorvo ao dinamismo dos negócios. Os que monopolizam os pontos fortes do poder privado capturaram o cerne do Estado e subordinam as estruturas deste aos seus desígnios imediatistas. Operam movidos pela busca do lucro farto e rápido, são fortes, muito organizados e estão nadando de braçada. A cada desacerto provocado pelo “espírito animal” da privataria, ao invés de se inibirem, postulam como saída mais privatizações. É a ideologia dominante.
As agências reguladoras, não apenas no setor aéreo, ao invés de regular são reguladas pelos poderosos interesses privados. As tarifas cobradas com finalidades específicas, não apenas no setor aéreo (vide o exemplo maior da CPMF), são contingenciadas para alimentar a roleta vertiginosa do cassino financeiro. Os famosos “gargalos” (setor energético, saúde, educação, segurança, estradas, portos e aeroportos) continuam empacados. E quando são aplicados em obras, os recursos seguem a mesma lógica da máquina mercante. As tabuletas do comércio brilham no chão de mármore dos aeroportos, na mesma medida em que falta dinheiro para o essencial: segurança das pistas, substituição dos equipamentos obsoletos, salário digno para os controladores. Por fora bela viola, por dentro pão bolorento.
Os governantes, todos, fazem cara de paisagem e operam sobre o fato consumado. No fragor das tragédias, simulam providências. Não governam, são governados. Prisioneiros da ótica privada, eles se afastam da ética pública. Intermedeiam negócios e fazem fundos de campanha. O resultado é este que aí está. A cratera do Metrô, em São Paulo, e a explosão de Congonhas são os exemplos mais recentes da perversa parceria, público-privada, da tragédia e o seu ambiente.

Manifesto comunista em "desenhos animados"

sexta-feira, 20 de julho de 2007

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Jerónimo de Sousa e Clara Zetkin



A Organização de Mulheres Comunistas e as Edições Avante lançaram um livro comemorativo dos 150 anos do nascimento desta revolucionária alemã. É positivo que as organizações de esquerda recordem percursos revolucionários e contributos políticos destacados na luta operária mundial.
Olhar para esses percursos e essas extraordinárias contribuições à luta revolucionária só reforça o peso da responsabilidade com que esse olhar deve ser dirigido. E esse olhar tem pontos de partida: é feito com espírito de compreensão sobre os tempos históricos, procurando interpretá-lo, valorizá-lo e percebê-lo de forma material e dialéctica; de outro modo pode ser feito com espírito de consumo de ideias, acrítico e deificação de personalidade.
No lançamento do livro, Jerónimo de Sousa produziu uma interessante intervenção sobre o património ideológico e de luta de Clara Zetkin. Vale a pena lançar algumas notas sobre essa intervenção.
Um dos aspectos mais significativos é o que diz respeito à contradição de género. Na sua intervenção, Jerónimo de Sousa referiu que “Clara Zetkin destacou que pretender transformar a condição das mulheres sem abolir o modo de produção capitalista conduziria as trabalhadoras a um beco sem saída, observando que as reformas levadas a cabo pelo próprio sistema capitalista serviriam para atenuar um pouco a vida da mulher mas não dariam êxito ao objectivo da condição social das mulheres das classes trabalhadoras, nem permitiriam efectivar o conjunto dos seus direitos económicos, sociais, políticos e culturais”.
Todos nós os que idealizamos a sociedade comunista acham esta afirmação correcta.
No entanto:
1.Olhando o tempo histórico em que viveu Clara verificamos que ela faleceu em 1933, portanto, ela conheceu o melhor do socialismo mas não o seu pior.
2.O socialismo realmente existente involuiu no tempo. Por exemplo: o aborto passou a ser proibido nalguns países… noutros o divórcio implicava a existência de um causador, julgamento público e por vezes era obrigado a afastar-se da própria cidade onde vivia…
3.O socialismo realmente existente, produziu avanços extraordinários até um determinado período, mas depois não foi capaz de responder a contradições como as ambientais, as de género ou as de orientação sexual... Cuba, por exemplo, só agora está a dar passos de respeito pelos direitos dos homossexuais.
4.No capitalismo nós lutamos por reformas. A despenalização do aborto não resolve o problema da revolução em Portugal – mas a sua luta não deixa de ser uma parte da luta de classes, da luta contra o conservadorismo.
5.Querer negar, objectivamente, a existência de uma contradição de género em nome da defesa do predomínio da contradição fundamental e de classe não resolve o problema da contradição de classe.
6.Existe uma materialidade em Portugal, existe uma característica patriarcal no domínio burguês.
7.Dialecticamente, os comunistas precisam de procurar explorar essa contradição para procurar mais alianças sociais e enfrentar a burguesia no momento e no ponto onde detém dificuldades. Não são só as trabalhadoras que são as mais exploradas, as mais precárias e que têm os salários mais baixos, a propriedade da burguesia portuguesa concentra-se no género masculino dessa burguesia; os gestores de negócios burgueses são quase exclusivamente masculinos.
O exemplo do aborto, que Jerónimo cita, é precisamente um dos exemplos em que uma política de classe sobre as contradições da sociedade pode traduzir-se em vitórias ideológicas. A vitória no referendo foi uma vitória extraordinária. Uma vitória que há muito a esquerda não tinha. Uma vitória sobre a igreja mais reaccionária, sobre a burguesia conservadora, sobre o patriarcado e o conservadorismo, foi uma vitória para a classe trabalhadora.
É pena que Jerónimo não perceba isso – se o percebe-se não tinha acantonado o PCP nesta luta.

terça-feira, 17 de julho de 2007

A questão do imperialismo


De Atílio Bóron, professor universitário, dinamizador do conhecimento e da luta marxista publicamos aqui um interessante texto sobre o imperialismo. Este texto é parte do livro "La teoria marxista hoy. Problemas y perspectivas" que Bóron assina com outros autores.
Bóron aborda algumas condições pós-leninistas do imperialismo e faz polémica a Negri na linha da defesa marxista.
A ler com muita atenção.

domingo, 15 de julho de 2007

Reduzir impostos para criar emprego?


Sarkozy lançou um programa de redução de impostos com o argumento da criação de emprego. O programa afecta os anteriores planos de cumprimento do défice francês mas a Comissão foi tolerante, no que poderá ser a ante-estreia para o alastramento de idêntica política. Mas importa agora desmontar o argumento. Recorre-se a um artigo do brasileiro Antônio Andrioli, também publicado na revista brasileira Espaco Academico e no boletim Participação do BE.
" A crise mundial do neoliberalismo comprova a ineficácia do capitalismo para a solução dos agravantes problemas sociais e ecológicos da humanidade. O mito do livre mercado, proposto pelos governos dos países ricos e seus organismos internacionais como solução ao dilema do subdesenvolvimento dos países pobres, começa a ser, gradativamente, desmascarado pelo aumento da desigualdade entre os países, pelas catástrofes ambientais e pela exclusão social de significativas parcelas da população mundial do acesso a condições mínimas de “sobrevivência e reprodução”. Mesmo nos países altamente industrializados, fenômenos sociais típicos dos países pobres começam a se generalizar e a intensificação dos conflitos entre excluídos e incluídos é um claro sinal da insegurança social, que se afirma a passos largos. As saídas propostas, entretanto, parecem ignorar o contexto e as causas da exclusão e da desigualdade social. Frases de efeito como “diminuir impostos para aumentar empregos”, “política social é a que gera empregos” e até mesmo “a geração de empregos é a maior prioridade de um governo” começam a ser usadas de forma generalizada em campanhas eleitorais na Europa. Mas, será que o Estado tem condições de gerar empregos? A diminuição de impostos a grandes empresas contribui para a redução do desemprego?
Diante do desemprego estrutural inten¬sificado pelo progresso tecnológico nas empresas e o gradativo desmonte social nas políticas públicas, vários governos do assim chamado “Primeiro Mundo” elegeram a exclusão de trabalhadores do mercado de trabalho formal como o maior problema social e político contemporâneo. As pesquisas de opinião pública confirmam a gravidade política do desemprego mas, a expectativa de que governos possam contribuir para a solução do problema é muito baixa, o que confirma o reduzido comparecimento de eleitores nas últimas eleições e o crescimento da desilusão e do descrédito da maioria da população com relação à política. O problema foi identificado como real e a emergência na procura de soluções está diretamente relacionada à preocupação de governos com a governabilidade (a estabilidade social necessária na sociedade para o funcionamento dos negócios capitalistas), com a acomodação da maioria da população à lógica dominante, centrada na produção e no consumo de mercadorias.
É esse o diagnóstico da maioria dos governos e que começa a ser expresso em forma de discursos, contando com a passividade e o senso comum dominante na sociedade. Os excluídos tendem a ser ignorados se estes não oferecerem risco à governabilidade. Somente nesta perspectiva é que o desemprego passa a ser tematizado pelos governos neoliberais, difundindo a ilusão de que “se as empresas vão bem, os trabalhadores também vão bem”, na esperança de que os poucos empregos gerados em função da política de benefício fiscal sirvam de motivação a uma maioria de excluídos, cuja existência não ameaça a lógica dominante e apenas precisa ser “administrada pelo Estado”.
É claro que o Estado não tem condições de solucionar o desemprego estrutural no capitalismo. As propostas de solução apresentadas, entretanto, estão centradas no agravamento da desigualdade social, em alternativas de caráter liberal com o propósito de estimular um maior crescimento da economia e, com isso, estabilizar o contexto social, altamente explosivo. Nesta concepção, se parte da falsa expectativa de que uma maior geração de riqueza venha a diminuir a pobreza, ignorando o problema da distribuição num contexto de aprofundamento da concentração de renda na sociedade. A idéia central das propostas neoliberais de crescimento econômico se baseia na redução de impostos às grandes empresas, como fórmula para “atrair investimentos” e, consequentemente, gerar novos empregos. Diante de uma prevista diminuição na arrecadação de impostos, o Estado, de acordo com os neoliberais, precisa ser “enxugado”, implicando no drástico corte nos gastos públicos, o que tende a agravar os problemas sociais. O problema do déficit fiscal, porém, é visto como temporário, tendo em conta que o esperado efeito do crescimento na taxa de empregos aumentaria o número de contribuintes, gerando uma maior arrecadação futura. A formulação lógica linear baseada em menos impostos, mais investimentos, mais crescimento económico, mais empregos, parece convincente e há uma ampla maioria social que continua acreditando em sua eficácia. O dilema é que a experiência de várias décadas dos governos que a vem aplicando, tem conduzido a resultados opostos aos enunciados e isso numa lógica circular agravante, ou seja, menos impostos, mais lucro, mais desigualdade social, mais desemprego, menos impostos, mais lucro, mais desigualdade social...
O caráter ideológico e mistificador da fórmula neoliberal de geração de empregos, comprovada na experiência prática dos governos que a vem aplicando, fica evidente na tentativa de justificação da desigualdade social aos excluídos, tensionados a aceitar os benefícios fiscais do Estado às grandes empresas, cujo resultado é a concretização do interesse maior de qualquer investidor capitalista, ou seja, o aumento da taxa de lucros. O caso da Alemanha é bem ilustrativo neste aspecto: os sete anos de governo do “social democrata” Gerhard Schröder podem ser caracterizados como um dos períodos de maior isenção de impostos a grandes empresas da história do país quando, concomitantemente, o desemprego cresceu a tal ponto que, hoje, há oficialmente 5 milhões de desempregados. A maioria das grandes empresas alemãs, ao invés de pagar impostos, passa a receber dinheiro do Estado para ficar no país e a arrecadação pública do governo alemão está maioritariamente centrada no imposto de renda, uma vez que os impostos sobre as riquezas, heranças e o lucro são, gradativamente, abolidas. Assim, nem sequer causa surpresa ao governo a constatação escandalosa de que o montante dos impostos pagos pelos alemães pelo direito de terem um cachorro supera o total das arrecadações fiscais das empresas.
O paradoxo é que os governos, responsáveis pelo endividamento do Estado, diante da ineficácia comprovada da política neoliberal, continuam apostando na redução de impostos com vistas à geração de empregos, agora sob a alegação de que a taxação tributária de grandes empresas estimularia sua migração para outros países. A culpa, portanto, passa a ser colocada na “globalização”, no “livre mercado”, na “concorrência”, como se as condições que permitiram a mundialização do capital e a intensificação da concorrência não fossem frutos de decisões políticas tomadas por estes mesmos governos. Mais que isso: governos vêm utilizando o argumento de uma suposta “irreversibilidade” da globalização neoliberal como manto ideológico para justificar a implementação de suas políticas impopulares, a serviço dos interesses do capital.
A proposta da oposição conservadora a Schröder era o aprofundamento da política neoliberal, ou, em outras palavras: “abrir de vez a janela, cuja vidraça já fôra arrombada”. O resultado das eleições, no entanto, conduziu a uma coligação entre a antiga oposição e o antigo governo, com o objetivo de continuar e aprofundar as “reformas necessárias” de caráter neoliberal (ver artigo “Centro-direita governa e esquerda cresce na Alemanha” em www.espacoacademico.com.br). O que os liberais aparentam não querer entender é que a sua fórmula de gerar empregos estimulando as grandes empresas não funciona. A premissa de que os investidores capitalistas venham a investir os lucros das suas empresas prioritariamente na expansão da produção está comprovadamente equivocada em tempos de hegemonia e mundialização do capital financeiro. Embora existam, de fato, empresários interessados na manutenção e geração de empregos, estes constituem uma absoluta minoria na atualidade e não se encontram entre os grandes investidores, os maiores beneficiados com o fim dos impostos sobre o lucro, as riquezas e as heranças. O que se comprova é a generalização da lógica capitalista de maximização da apropriação privada dos lucros, especialmente através da especulação financeira.
Na Alemanha, as grandes empresas estão acumulando lucros recordes e os empregos vêm diminuindo na mesma proporção. As 30 maiores empresas no país fecharam o ano de 2005 acumulando 17,5 bilhões de euros em dividendos, 17% a mais do que no ano anterior e exatamente as que mais lucraram e estão sendo isentas de impostos, são as que mais vêm demitindo trabalhadores. Somente para termos um comparativo, o montante de lucros das maiores empresas alemãs corresponde ao total dos investimentos dos governos municipais no país em 2005, os mais atingidos pelos cortes de recursos e o aumento do endividamento. Além de constituir a fonte do enriquecimento privado dos acionistas das empresas (comprovado pelo aumento do número de milionários e bilionários e da crescente desigualdade entre ricos e pobres), os lucros vêm sendo crescentemente investidos no mercado financeiro, onde não geram empregos e acabam contribuindo para o aumento da especulação e do desemprego em setores produtivos da economia. Os especuladores financeiros, por sua vez, comemoram o desemprego, pois a cada demissão massiva de trabalhadores por parte das grandes empresas, a bolsa de valores reage positivamente, aumentando o valor de suas ações.
A tematização do desemprego como problema social carece do desmascaramento de sua lógica e da explicitação dos interesses que nele estão implícitos (ver artigo “Aumentar a exploração para garantir empregos?”). Ao tomarmos o contexto apresentado como referência para a análise, podemos concluir que a aparente preocupação dos liberais com a geração de empregos não passa de um artifício para isentar empresários de impostos sobre os lucros das grandes empresas, as quais, em última instância, são responsáveis pelo financiamento das suas campanhas eleitorais, seus institutos de pesquisa e marketing. A estreita aliança de governos com os interesses do capital na consecução da política neoliberal tende a agravar os conflitos sociais e o Estado procura agir com políticas compensatórias, reduzindo sua ação ao seu papel original na sociedade capitalista: convencer os excluídos da sua própria exclusão e reprimir possíveis rebeliões por parte dos “ainda não acomodados”, que tendem a aumentar progressivamente. Assim, contando com o apoio da classe dominante e a hegemonia ideológica nos principais meios de comunicação social, a governabilidade parece estar relativamente assegurada, enquanto o mito neoliberal ainda continua tendo adeptos".
Cartoon de Sergei Campos

sábado, 14 de julho de 2007

Para rir a sério

Esta é uma pequena selecção de imagens do blogue wehavekaosinthegarden.blogspot.com. Visite-o.
A não perder, a imaginação à solta.

Quantos são? Quantos são?

Destruidor de ambientes

Correia dos Mellos

Júdice "o mandatário de todos os negócios"

E espera até vir o novo código de trabalho...

Concurso professor titular

Teixeira dos Bancos

O segredo das maldades

Um tipo inteligente

O esclarecimento

O amor é louco

Mariano lava mais branco

A bela e o mestre

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Sarkozy faz OPA sobre o PSF


O Jornal Público traz hoje uma interessante notícia sobre a crise no PS francês. O título é elucidativo: Partido Socialista francês vive "crise mais grave de sempre" após derrota presidencial.
“Dominique Strauss-Kahn foi escolhido para representar a candidatura da França ao cargo de director executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Jack Lang para chefiar uma comissão governamental de reflexão sobre a reforma das instituições… Hubert Védrine, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Lionel Jospin, aceitou o convite de Sarkozy para fazer parte do trabalho de reflexão sobre o papel da França e da Europa no mundo, Bernard Kouchner já tinha sido nomeado para ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Pierre Jouyet, secretário de Estado para os Assuntos Europeus, e Jean-Marie Bockel, para secretário de Estado da Cooperação e da Francofonia”.
Para alguns esta passagem de altos quadros do PSF para o governo de Sarkozy poderá ser uma traição. Para outros poderá mostrar o espírito de abertura do presidente francês.
Para outros ainda, e neles me incluo, esta é apenas a consequência da fusão de políticas no centrão.
A adesão dos partidos ditos socialistas à política neoliberal tornando o poder numa rotatividade de dois partidos que são cara e coroa de uma mesma moeda, fez do centrão o lugar das políticas comuns da ditadura do pensamento único.
Na verdade, os altos quadros do PSF pensarão – com alguma razão – de que para fazer a mesma política vale mais estar num partido vencedor do que num derrotado, vale mais estar no poder do que na oposição. Se assim não fosse um dos convites não era para director do FMI, outro não era para os Negócios Estrangeiros. Além disso, no poder sempre se ganham mais umas massas e um tipo sempre é mais importante.
Por cá a OPA foi um bocado em sentido inverso: Sócrates cooptou três ex. CDSs para o seu governo e parece que se deu bem com a coisa. Mas no fundo, no fundo OPA para cá, OPA para lá a política é a mesma!

quinta-feira, 12 de julho de 2007

PC Chinês atinje 72 milhões de membros, menos um o fuzilado


O jornal Avante dá-nos conta de que o PCC "superou os 72 milhões de militantes durante o ano de 2006".
Trata-se de uma imensa mole humana só possível num país como a China: Poderíamos perguntar agora: porquê o Avante dá esta notícia? Concerteza porque a acha relevante. E porque não dá notícias dos crescentes conflitos entre trabalhadores e patrões, entre despedidos e administrações, entre massas populares enormes e cliques governamentais suportadas pelo aparelho militar e repressivo?
Ou seja, falar de um regime dito comunista implica abordar o problema dos direitos dos trabalhadores / dos direitos humanos.
A notícia de que o poder chinês "executou na terça-feira um ex-chefe da área de controle de remédios e alimentos condenado por corrupção".
"A pena de morte tem por objectivo servir como aviso em meio a uma série de escândalos surgidos na área da saúde e responsáveis por manchar a imagem do selo 'made in China'. A Corte Suprema do Povo confirmou a pena de morte para Zheng Xiaoyu, 62, condenado por aceitar subornos no valor de 6,5 milhões de iuans (850 mil dólares) de oito empresas e por não cumprir seus deveres, afirmou a agência de notícias Xinhua".
Pergunta-se também, porquê o Avante não reproduz esta notícia?

4 vídeos - 4 lutas

Dos trabalhadores sem terra do Brasil à luta pela independência do povo do Sahara Ocidental; da Delphi de Tânger à guerra de Espanha. É caso para dizer: a luta continua!
Veja em baixo.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

A luta dos trabalhadores da Delphi - Tânger

Sahara - esperar, até quando?

A guerrilha da memória

Documental sobre los maquis. Los últimos guerrilleros españoles nos regalan su memoria histórica, sus días de lucha desigual frente al régimen franquista.
Esta es una historia sobre la memoria, y por lo tanto sobre el olvido. Es también la historia de un viaje con los guerrilleros antifranquistas, un viaje en el tiempo, hacia los recuerdos, un viaje de vuelta a los montes y a los árboles. Un viaje hacia un momento de la historia de España que ya nadie visita.
Una película Documental de Javier Corcuera, España, 2001
Duración: 67 min

Armas não atiram rosas

Foi lançado no Brasil, e divulgado pelo site www.correiocidadania.com.br um documentário que relata os acontecimentos de 9 de junho de 1997, quando pistoleiros contratados por latifundiários atacaram o acampamento do MST no Engenho Camarazal, na Zona da Mata de Pernambuco, ferindo cinco trabalhadores - inclusive duas crianças - e tirando a vida de outros dois sem-terra depois de uma tortura brutal.

Ficha Técnica
Duração: 14 min
Direção: Maria Luísa Mendonça e Thalles GomesRoteiro: Joba Alves, Marluce Melo, Maria Luísa Mendonça e Thalles GomesProdução: Cássia Bechara, Ana Emília Borba e Natália PaulinoTrilha sonora: Grupo Galante e Ivan VilellaRealização: Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Rússia faz oposição aos Estados Unidos?


Primeiro vou vos passar o integral do editorial do portal vermelho.org.br


" 7 DE JULHO DE 2007
- 00h05


EUA x Rússia: unipolaridade em xeque

Gentilezas à parte, o encontro entre George Bush, dos EUA, e Vladimir Putin, da Rússia, no dia 2, terminou como começou, com o mesmo impasse sobre os três pontos de discordância entre as duas potências: a questão do escudo anti-mísseis no Leste Europeu, a independência de Kossovo e o aumento da pressão para que o Irã renuncie a seu programa nuclear.

O principal é o que se refere aos mísseis. E a tensão entre as duas nações já avançou o suficiente para alterar a relação de poder na Europa e recolocar a Rússia em uma posição de força nas relações internacionais, da qual ela havia se afastado desde as décadas de 1980 e 1990, cujo resultado foi o fim do mundo bipolar e o fortalecimento dos EUA como potência única.

É um braço de ferro que cresce desde janeiro, quando Bush anunciou a intenção de instalar um radar e dez interceptadores de mísseis de longa distância na República Tcheca e na Polônia, prontamente aceita pelos governos tcheco e polaco.

A resposta russa veio por partes. Em 23 de maio, Moscou declarou a moratória do Tratado de Forças Convencionais na Europa, baliza das relações entre a Rússia e o continente. Em 29 de maio, anunciou o lançamento do míssil balístico RS-24, para substituir os antigos RS-18 e RS-20. Vai entrar em operação após 2011, é capaz de iludir a vigilância dos radares anti-míssil, transporta 10 ogivas nucleares, e alcança alvos a 6.500 quilômetros. É um grande reforço da capacidade militar russa e, na prática, inviabiliza o escudo antimíssil que os EUA querem instalar na Europa.
Além disso, no início de junho, Putin anunciou que, se o sistema de defesa dos EUA for instalado na República Tcheca e na Polônia, “os mísseis russos voltarão a ser apontados para a Europa”.

Este foi o cenário do encontro entre Bush e Putin em Kennenbukport, no Maine, norte dos EUA. Lá, o item principal do cardápio de Bush foi a pressão sobre o Irã; e o da Rússia, por usa vez, foi o escudo antimíssil.

Não houve acordo. Putin chegou a propor uma ação conjunta para a defesa da Europa, a partir de instalações militares no sul da Rússia, e que seriam dirigidas pelos dois países. Encontrou um Bush irredutível.

Menos de 48 horas, a resposta russa veio no mesmo tom, reiterando aquilo que fora anunciado em junho. "Se nossas propostas não forem aceitas - e não posso descartar essa possibilidade -, a Rússia continuará a explicar, paciente e persistentemente, sua posição a respeito da questão", disse Sergei Ivanov, primeiro vice-primeiro ministro russo e provável sucessor de Putin. "Mas, ao mesmo tempo, estamos prontos para adotar as medidas adequadas para garantir nossa segurança."

Nova guerra fria à vista? Ainda é cedo para responder a esta questão, embora seja possível uma constatação: esta é uma das maiores oposições que a unipolaridade dos EUA enfrenta desde o final dos anos 80".

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Este artigo, retirado do portal brasileiro, dá nota de uma interrogação que merece ser analisada, ainda que brevemente.

Os arrufos da Rússia representam um desafio ao centro do poder do imperialismo? Então em que se expressam as divergências Bush – Putin?

Só o facto da recente reunião entre os dois se realizar na casa de praia do papá Bush tem uma mensagem “a gente tá se entendendo, isto vai numa boa. É, tem diferenças – mas nada de mais”.

Na verdade Putin não saiu da pescaria com a família Bush exigindo a saída do Iraque nem do Afeganistão. Putin está querendo ser um importante membro do Conselho de Administração do imperialismo capitalista. Bush quer escudo anti-mísseis – Putin não gosta mas negoceia e propõe o uso conjunto de uma base de radares no Azerbaijão. Bush, apoiando nos governos reaccionários da República Checa e da Polónia que matar dois coelhos de uma cajadada: meter-se bem dentro da Europa – assumindo-se com a NATO como o chefe militar do mundo, coisa que o falido projecto de Constituição Europeia já reconhecia – e, possivelmente, estar mais perto e protegido de conflitos no Leste ou nas regiões árabes.

Mas os arrufos russos também merecem ser vistos à luz dos recentes conflitos em torno da energia com a União Europeia e em particular com a Alemanha e a Ucrânia. A burguesia russa está se agrupando, quer assumir sua parte na exploração dos recursos naturais, quer assumir sua parte na divisão internacional dos lucros. A burguesia russa está fortalecendo-se – e isso implica luta política. E a “coutada” Kosovo poderá ser um negócio menor.

Em Putin não há oposição à unipolaridade norte-americana em primeiro lugar porque Putin não se coloca ao lado dos povos pela paz. Putin é um agressor. Aliás, transparece que a recente pescaria tem como resultado uma maior aproximação no tema do Irão.

Putin não se coloca ao lado dos direitos humanos e da democracia – a Rússia atravessa um processo cada vez mais opressivo sobre o seu povo e cada mais limitador das liberdades.

Putin não se afirma contra o domínio imperial e muito menos contra a política neoliberal. Aliás, a Rússia tem sido exemplo da violência que perpassa na formação da sua burguesia, na acumulação de capital e de propriedade, na execução de uma política económica neoliberal “armada”.

E se alguma dúvida houvesse sobre a política russa, a drástica diminuição da esperança de vida do povo russo aí está a mostrar-nos!

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Mais críticas à política de saúde do governo

"Pouca sensibilidade social". É desta forma que o Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) caracteriza o último ano das políticas do ministro da Saúde Correia de Campos. Os fechos de maternidades merecem alguma crítica. O Observatório acusa ainda a que o acesso dos cidadãos aos serviços, como no caso das listas de espera para cirurgias, "parece estar fora das prioridades do Ministério da Saúde e do seu discurso político" e defende a revisão das novas taxas moderadoras. As parcerias com privados merecem ainda a crítica do Observatório.
O governo parece estar a enfrentar crescentes dificuldades com a sua política de saúde - política que visa transferir para o sector privado aquilo que é um direito dos cidadãos.
Pelos vistos esta luta começa a prometer.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Veja filmes europeus - a UE recomenda

A comissária Margot Wallstrom é autora de uma iniciativa destinada a mostrar que, segundo o DN, nem tudo na Europa é burocrático. E vai daí nada melhor que um video com 18 casais a fazer sexo. Um de cada vez, claro!
Será que a comissária anda com carências afectivas ou é apenas uma expressão artística?

domingo, 1 de julho de 2007

António Arnault critica política de saúde


Entrevista ao JN

O Ministro da Saúde "está a tomar medidas que nunca a Direita tomou, porque não tinha coragem".
O socialista que introduziu o Serviço Nacional de Saúde reconhece que o sistema carece de medidas de ajustamento, afectado que está pela procura desnecessária e o desperdício de recursos. Nesta parcela da entrevista que hoje será emitida na Antena 1, António Arnaut insiste na tese de que o SNS constitui um instrumento de justiça social e acusa Correia de Campos de falta de sensibilidade. "A saúde não é aritmética", sustenta.

JN/Antena 1| O seu modelo de Serviço Nacional da Saúde (SNS) é compatível com a actual situação económica do país?

António Arnaut | É compatível, mas antes deixe-me dizer-lhe que a existência do SNS é uma questão ética, de justiça social, antes de ser constitucional. Quero a justiça acima da lei. Mas enquanto a Constituição não for alterada, não se pode mudar o sistema. A solidariedade, por estar na Constituição, deixou de ser conceito moral para ser jurídico-constitucional. Qualquer acção social que se faça tem de ter em conta o princípio da solidariedade.

Está a perder-se esse sentido de solidariedade? Este Governo está a perder...
Não é só este governo; tem vindo a perder-se. As pessoas hoje aceitam coisas que não aceitavam. A ideia liberal de que tudo se compra e vende, de que a saúde pode ser uma mercadoria... Hoje fala-se nos doentes como clientes. Cria-se uma terminologia de mercado. Mas não é a economia de mercado que me preocupa; é a vida ser um mercado.

Está a mexer-se no sistema dizendo-se que é caro e que o país não o aguenta...

Claro que há um problema de financiamento e que, se não forem tomadas medidas, há ruptura do sistema. Quanto mais procura, mais despesa. Resolve-se tomando medidas de ajustamento. Há alguma procura desnecessária.

Como se combate?

Depende sobretudo dos médicos. Têm de saber quando a procura é desnecessária e, nessa altura, não receitar. Frequento os serviços e sei o que se passa. Há sobretudo grande desperdício de horas extraordinárias que se pagam e não se fazem, horários que não se cumprem...

É um problema de organização e controlo.

É. E até agora ninguém é responsável. Não tenho notícia de ter sido punido um chefe de serviços, um director hospitalar, um administrador por desperdício. É preciso responsabilizar toda a hierarquia. E há promiscuidade entre público e privado. Antes de tomar medidas como a actualização de taxas moderadoras, deve atacar-se aqui. Há médicos dedicados e outros que só picam o ponto.

É assim em todos os sectores.

... Mas é preciso tomar medidas. E aceito pagar melhor a quem mais produz, premiar o mérito.

Aceita o conceito de produtividade na saúde?

Aceito. É uma questão de justiça.

O que está a ser bem feito neste momento na saúde?

Já disse ao ministro Correia de Campos – de vez em quando faço declarações críticas e ele fica incomodado...

Incomoda-se com facilidade...

O grande defeito dele é porventura a sua grande virtude. É das pessoas que mais sabe de saúde em Portugal. Mas a saúde não é uma aritmética. E falta-lhe essa sensibilidade. Tem razão em 90% das medidas. Quando fechou bloco de parto, fez bem, mas fez mal em Elvas, por uma questão de dignidade nacional, e em Mirandela. E fechou SAP, alguns bem, mas há um problema humano. Ele diz "O que faz um médico isolado, que custa muito ao Estado, se tem de conduzir muitas vezes um doente a um hospital central?". Mas esquece os casos em que a existência de um médico num lugar isolado dá uma garantia psicológica às populações. E isso tem de se pagar, porque é também uma questão de coesão social. O Estado tem de suportar os custos da interioridade, como suporta os da insularidade. Essa parte humana escapa ao ministro, certos valores essenciais ao conceito de humanismo, que deve ser a doutrina-base do PS. Está a tomar medidas que nunca a Direita tomou, porque não tinha coragem e porque o PS, na Oposição, nunca permitiu.

Dê um exemplo.

As taxas moderadoras para os internamentos e as cirurgias, quando essa taxa, por definição, se destina a desencorajar a procura desnecessária. Não é uma decisão do doente, mas uma imposição do médico. O doente fica internado e ainda por cima paga! Isto não pode ser! É uma coisa absurda! Um ministro socialista não pode fazer isto. Mas fez. Por isso às vezes me sinto indignado. A indignação é um direito constitucional e no PS sempre esse direito existiu.

Tirando a sua voz, não se, ouviram críticas no PS.

Porque as pessoas estão acomodadas. Politicamente, é correcto estar calado. Mas não é verdade. O Manuel Alegre falou, outras pessoas falaram... E sei o que se passa nas bases. Ainda há dias, numa reunião do grupo parlamentar, soube-se que alguns deputados disseram que há pouco PS no Governo. Estou de acordo. A não ser que mude de nome, o PS tem de ter algumas preocupações sociais. Ao menos, salvar o estado social, como aliás tem dito José Sócrates.