domingo, 22 de julho de 2007

Ganhar massas para a oposição ao governo



Que o PS estava a ultrapassar a direita, pela própria direita, já estava a ser denunciado pela esquerda. Que fosse Bagão Félix a vir adjectivar as propostas da comissão, dita técnica, nomeada por Sócrates, para o livro branco do código de trabalho, de “arbítrios inaceitáveis” é coisa que ainda estava para vir.
Mais ainda, no final da sua entrevista de hoje ao DN, Bagão lembrou: “na altura da minha revisão, o PS votou contra e o actual ministro, que era deputado, disse: um dia que sejamos governo vamos repor tudo aquilo que o senhor tirou aos trabalhadores”. Agora afirma-se “curioso” para ver o que vai acontecer.
As primeiras propostas constantes do chamado relatório de progresso da comissão do livro branco são já conhecidas. Diminuição das férias e do subsídio, desregulação do horário de trabalho tornando o trabalhador um mero pau mandado da vontade do patrão, simplificação dos despedimentos…
Carvalho da Silva apelidou, e bem, as propostas como um “cardápio de maldades”. As propostas da comissão estão em coerência com a política do governo. Essa política abre espaço para que as confederações patronais venham agora exigir o fim da constitucionalidade da proibição do despedimento sem justa causa. Confrontados com a reacção da esquerda no parlamento, e o entalanço feito ao governo, os patrões corrigiram o tiro: querem despedir à vontade – não é preciso rever a Constituição. Ou seja mantêm-se o princípio da proibição de despedimento sem justa causa ou por motivos políticos e ideológicos - a justa causa é que passa a ser qualquer coisa.
A resposta da classe trabalhadora não é fácil. A última greve geral não acumulou forças – pelo contrário. Manter uma ilusão para “não dar parte fraca” ou para sustentar uma resposta aparentemente radical só vai dar mais prejuízo no futuro. Uma resposta de classe não se sustenta na ilusão dogmática.
As propostas governamentais precisam, da nossa parte, de um intenso esclarecimento dos trabalhadores. Vamos ter necessidade de lutar – ainda que saibamos que dificilmente o governo mudará de política. O próprio governo já desencadeou medidas mais reaccionárias em cima de dias de protesto – os professores bem o sabem. A mensagem é clara: “não vale a pena vocês protestarem contra as nossas medidas, ainda as agravamos mais”.
Antes que seja tarde os trabalhadores precisam de assumir a sua dignidade. Temos muito a perder. Vai ser preciso lutar. Vai ser preciso ganhar os inseguros e os precários, os que não sabem ou não olham para a política. Vai ser preciso ganhar massas.

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