domingo, 22 de abril de 2007

greve geral?

Há muitas perguntas que se podem colocar sobre uma luta deste âmbito:
1. O significado da greve geral é o mesmo das décadas ou dos séculos anteriores?
2. A composição actual da classe trabalhadora favorece ou prejudica a implementação da greve?
3. A precariedade e o desemprego influenciam politica e ideologicamente?
4. Existem motivos para a greve geral de 30 de Maio?
5. Existem motivação e condições de luta?
6. O plano neo-liberal está no seu ponto máximo e a greve representa o enfrentamento no ponto mais alto? O que falta no plano do governo? O papel da flexisegurança e da presidência da UE. O que resta do actual código de trabalho? As reivindicações do patronato?
7. Os sindicatos acompanharam as transformações sociais?
8. Os sindicatos estão a ter uma resposta a indicações que vêm da base ou a submeter-se a outros interesses?
9. Abordando as condições objectivas da adesão à greve poder-se-á colocar a seguir: e como sai a classe da greve?
10. Nota final.

1. O significado de uma greve geral, hoje, em Portugal, é diferente de outros tempos. Ele sofreu mutações significativas. Já não tem o carácter insurreccional, não designa uma paralisação total e nacional mas uma grande paralisação - uma paralisação generalizada, concentra-se nos sectores que ainda dispõem de capacidade de luta como a administração pública e os transportes.
2. A composição da classe trabalhadora alterou-se muito nos últimos anos. Em primeiro lugar as grandes empresas foram sendo desmanteladas, desmantelando-se com elas grandes baluartes de luta. As empresas nacionalizadas foram sendo privatizadas arrastando consigo vagas de despedimentos ou redução de pessoal através de rescisões por mútuo acordo e reformas antecipadas, reduzindo a ¼ o número de trabalhadores efectivos. As empresas enxugaram-se. Os postos de trabalho efectivos foram sendo substituídos pela subcontratação e pela precariedade generalizada.
3. A precariedade assume hoje, em empresas como a TMN, OPTIMUS… e muitas outras, valores de 90% dos trabalhadores. A isso acresce a entrada em força das empresas de trabalho temporário e do trabalho a tempo parcial. Submetidos à chantagem do despedimento imediato os precários têm medo do despedimento imediato. Submetidos à chantagem do desemprego ou efectivos calam-se para que não sejam substituídos pelos precários.
Esta pressão ideológica, material e bem real, soma-se a novas (in)culturas dos novos trabalhadores. A ideologia neoliberal trata serviços diferentes de uma mesma empresa por clientes internos; trabalhadores de empresas de trabalho temporário (que sustentam dois patrões) consideram que a empresa contratante da sua é um cliente e não mais uma empresa que lhe suga o trabalho; parte importante do salário depende de avaliações dadas pelas hierarquias. A nova cultura do trabalhador é muito diferente da cultura do trabalhador de há trinta anos.
4. Os motivos para decretar a greve geral são mais do que muitos. O PS não reviu o código de trabalho, nem tão-pouco as normas mais gravosas – e tudo faz para o prolongar. O PS insistiu em manter a caducidade da contratação colectiva, fez uma lei de trabalho temporário que legaliza as arbitrariedades patronais, fez uma lei de acidentes de trabalho que não toca nos interesses das companhias de seguros.
O governo reduziu o tempo de subsídio de desemprego, com o desastrado acordo da CGTP, aumentou a idade de reforma, os descontos e diminuiu o valor das pensões. O PS recusou o imposto sobre as grandes fortunas ou o fim do sigilo bancários mas mantêm o IVA a 21% e medidas financeiras dacronianas de redução do financiamento do Estado Social para obrigar à redução do défice. O governo prepara milhares de despedimentos na administração pública e encerra os serviços públicos…
Falta de motivos não há!
5. Mas se não faltam motivos, será que há motivação? Os protestos realizados pela CGTP têm estado no ponto certo: protestos. Por isso foram um sucesso. A positiva participação dos trabalhadores nestas acções de luta significam um luto e um descontentamento para com o governo. Não significam mais do que isso. Porquê? Basta verificar que quase não existe mais nenhuma luta, que a contratação colectiva tem derrotas sucessivas sem que os sindicatos e os trabalhadores consigam reagir ou condicionar os patrões. Falta motivação na classe para formas de luta mais avançadas. A classe não está a pressionar a CGTP para mais lutas, a classe não está a sair à rua em acções de solidariedade com empresas em luta, a classe está potencialmente descontente mas impotente. Apesar dos protestos contra o encerramento dos serviços públicos, a impotência é o sentimento dominante!
6. O plano neoliberal ainda não está completo. Vem aí a flexi-segurança que não é mais do que a flexi-precariedade. Vem aí mais uma campanha ideológica que vai acusar os efectivos de não quererem deixar entrar os precários, que vai acusar os trabalhadores de não querer deixar entrar os desempregados. Em nome do privilégio de manterem postos de trabalho que não se justificam o governo vai continuar a tentar voltar trabalhadores contra trabalhadores. Vêem aí novas leis de trabalho ainda piores do que o código. Os escritores burgueses já começaram a escrever “ a CGTP que fez greve contra o código vai acabar a fazer greve para o defender”. O que prenuncia a dimensão do ataque. A eles junta-se o socialista presidente do Banco de Portugal, todos contra a rigidez de mercado e impossibilidade dos despedimentos – como se tem visto o que os patrões têm tido dificuldades é em despedir. Em nome da competitividade, do mercado aberto, da Europa, da resistência às deslocalizações querem tornar qualquer causa do interesse patronal em justa causa de despedimento. Com a bênção de uma cimeira europeia.
7. Os sindicatos tiveram muita dificuldade em acompanhar as transformações sociais e da luta de classes vitimados pela devastadora ofensiva neoliberal, pelos despedimentos, pela redução sucessiva de sócios e de quadros, pelas falências, pelas deslocalizações e pela precariedade, os sindicatos perderam muita força. A isso acresce o efeito negativo do envelhecimento de quadros que desde sempre se viram chefes sindicais a tempo inteiro, a diminuta democracia sindical, o burocratismo, o sectarismo e a arrogância de muitos dirigentes sindicais, o esquerdismo aliado a cedências incompreensíveis, a ausência de uma prática de puxar pela participação da classe, transformando o trabalhador actor da luta em consumidor da propaganda e das ordens sindicais.
8. A resposta da CGTP não é pois uma consequência de uma evolução positiva da luta de classes, de um desenvolvimento da participação da classe, ou até da assunção de um confronto com o governo que tinha que se fazer “para se estar de cabeça erguida” como foi a anterior greve geral. A resposta da CGTP, marcando greve para um mês em que quase não há contratação colectiva por resolver, não há novas propostas salariais para lançar, não há está ainda em epílogo o novo pacote laboral, carece serenidade e análise de classe.
A fundamentação está na pressão que directamente o Secretariado do Comité Central do PCP fez sobre a central. A pressão está no domínio, no controle administrativo, na utilização da central como uma correia de transmissão do PCP. O PCP partidariza a central e com isso dificulta a luta contra o governo e a ampliação da luta dos trabalhadores.
9. Uma greve, ou uma qualquer acção de luta deve ter como efeito uma evolução positiva na consciência do trabalhador. Pode não ter resultados salariais, ou impedir a perda de direitos – mas ter uma consequência positiva na afirmação cidadã da classe e do trabalhador. Pode perder na objectividade mas ganhar na subjectividade. É um receio para esta greve geral.
Para ter melhores condições a greve deveria realizar-se por alturas de Outubro / Novembro, em plena presidência da União Europeia, em plena polémica contra o novo pacote laboral – não para defender o anterior mas para rejeitar os dois. No tempo do lançamento de novas propostas de Acordos de Empresas, tabelas salariais, contratos colectivos….
É o tempo que dava tempo à preparação para garantir melhores condições de adesão. É o tempo para ajudar a ganhar amplitude de apoio social e pedir o apoio de movimentos sociais, personalidades, todas as alianças que ajudem a luta dos trabalhadores
10. Em conclusão, a greve geral deve ser apoiada para que tenha os melhores resultados possíveis. Para a maior adesão possível. Mas também para que os activistas sindicais e políticos reflictam criticamente sobre o que é a luta de classes hoje.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Ultraimperialismo ou as malhas que o império tece




À visão algo idílica do "Império", de Negri e Hardt, contrapomos o conceito de imperialismo global, qualitativamente distinto dos velhos imperialismos antagónicos entre si, do tempo de Lénine, dotados de impérios coloniais próprios.

A tese central de Toni Negri e Michael Hardt, expressa na obra "Império"1 é de que a era do imperialismo acabou e ao capitalismo globalizado corresponde a uma nova forma de soberania em rede mundial: "O império é o sujeito político que regula efectivamente estes intercâmbios globais, o poder soberano que governa o mundo".
Esta tese central surge articulada com outras duas, a saber: a expansão do capitalismo mercantilizou todos os nichos da vida social, incluindo sectores tradicionalmente confiados ao Estado como a saúde, a educação e a segurança social - nada escapa à ditadura do mercado - fenómeno que designam de biopolítica; e um novo sujeito histórico emergiu como motor da transformação social e de alternativa, substituindo o proletariado: a multidão.
Se é verdade que estas teses formam um todo, este artigo concentra atenções sobre a primeira: a época do imperialismo deu lugar à do império. Não sem antes sublinhar que, para além dos nossos desacordos, a obra de Negri e Hardt responde a um conjunto de novos fenómenos e características do capitalismo global (que não podem nem devem ser ignorados), elaborando sobre eles uma visão particular do mundo contemporâneo.
Ultraimperialismo?
A ideia de que a época do imperialismo foi superada, desenvolvida no capítulo "Do imperialismo ao Império", evoca polémicas marxistas de há quase um século, em particular de Lénine contra Kautsky. Negri e Hardt estão conscientes da inevitabilidade desta associação e fazem-lhe referência expressa:"Lénine considerou a posição de Kautsky, que também tomou a obra de Hilferding como ponto de partida, como ainda mais utópica e perigosa. Kautsky propôs, efectivamente, que o capitalismo poderia alcançar uma unificação política e económica real do mercado mundial. Os violentos conflitos do imperialismo poderiam ser seguidos por uma nova fase pacífica do capitalismo, uma fase ultraimperialista 2 Os magnatas do capital poderiam unir-se num único monopólio mundial, substituindo a competição e as lutas entre os capitais financeiros nacionais por um capital financeiro internacionalmente unificado."
Toni Negri resume assim a crítica leninista do "ultraimperialismo":"Lénine concordou (...) que existe uma tendência no desenvolvimento capitalista para a cooperação internacional dos diversos capitais financeiros nacionais e, no limite, para a constituição de um único monopólio mundial. Mas combateu energicamente o facto de Kautsky utilizar essa visão dum futuro pacífico para negar a realidade presente; por isso, Lénine denunciou o "desejo profundamente reaccionário de acalmar as contradições" da situação actual. Em vez de aguardar por algum tipo de pacífico ultraimperialismo no futuro, os revolucionários deveriam actuar agora sobre as contradições inerentes à actual organização imperialista do capital."
(para ler o resto do artigo clique no título)

segunda-feira, 16 de abril de 2007

A ideologia da liberdade liberal

Os defensores do liberalismo, que se apresentam como mensageiros da libertação da humanidade, não se cansam de repetir que é necessário reduzir o Estado para aumentar a liberdade dos indivíduos divíduos na sociedade. Mas, em que consiste essa "liberdade"? Quais são os indivíduos que se tornam mais "livres" com o liberalismo e quais são as conseqüências da "liberdade" liberal para o conjunto da sociedade?
A idéia predominante do liberalismo é de que através do livre mercado as potencialidades humanas seriam, automaticamente, estimuladas em benefício de uma coletividade. O grande inimigo da "liberdade" seriam as instituições coletivas, como o Estado, por pretenderem regrar os indivíduos de acordo com um interesse coletivo. Partindo do pressuposto de que a liberdade é marcada pela ausência de condições e limites, uma liberdade negativa, portanto, o seu exercício se daria através da predisposição natural de autodeterminação do indivíduo.

A origem dessa concepção de liberdade remonta ao período de ascenção da burguesia com o advento do capitalismo e o fim do poder absolutista feudal. Para a burguesia, progressista e revolucionária da época, o feudalismo, amparado na absolutização da idéia de que a liberdade é uma dádiva divina, seria substituído pelo predomínio da propriedade privada dos meios de produção e do mercado. É essa a liberdade do indivíduo, centralmente reivindicada pelos liberais. Esse conceito de liberdade, que passa a se confundir com a idéia de justiça liberal, foi documentado por ocasião da Revolução Francesa, em 1791, como sendo o livre arbítrio do indivíduo o "agir livremente sem interferir na liberdade do outro".
(para ler mais clique no título)

O Marxismo e a produção do conhecimento

Resumo: Este artigo discute algumas categorias do pensamento marxista e sua inserção na problemática da produção do conhecimento científico.
Palavras-Chave: Marx; Conhecimento; Dialética
Abstract: This article discusses some categories of the Marxist though and its insertion in the problematic of production of scientific knowledge.
Key words: Marx, Knowledge, Dialectic

Introdução
Esse artigo se insere no contexto das problemáticas a respeito dos métodos de pesquisa, respeitando suas adversidades[1], limites teóricos e principalmente se colocando na direção de compor uma reflexão séria a respeito do marxismo naquilo que se refere à produção do conhecimento científico.
A produção do conhecimento, classicamente, é entendida na relação entre o sujeito que conhece (cognoscente) e o objeto que pode ser conhecido (cognoscível). A interpretação se dar por modelos teóricos: “esta tipologia não é de maneira nenhuma especulativa, pois que cada um destes modelos[2] encontrou a sua ilustração concreta em correntes filosóficas historicamente existentes” (SCHAFF, 1986, p.73)
O objetivo deste artigo é refletir sobre o método dialético na compreensão de suas particularidades e na busca pela revelação da realidade contemporânea.
(para ler mais clique no título)

A coragem começa cedo?


A tentativa de um pequeno exercício marxista

Este blog é acima de tudo um exercício marxista. Uma pequena aventura na blogosfera e ainda menos pretensiosa aventura na comunicação de ideal comunista. Plural, aberta, sem ortodoxias...
O desafio do marxismo é assim mesmo, é a aventura da procura de novas respostas.