sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Prémio tu é que devias estar desempregado e ganhar 450€

Teixeira dos Santos negou-se, no parlamento, a aumentar o subsídio de desemprego.
“A justificação dada pelo ministro das Finanças foi a de que aumentar o subsídio de desemprego conduziria a um aumento do desemprego estrutural, devido ao menor incentivo à procura de trabalho que as alterações trariam” relata o JNegócios.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Grito e choro por Gaza e por Israel

Magnífica crónica de Fernando Nobre no seu blogue:

Há momentos em que a nossa consciência nos impede, perante acontecimentos trágicos, de ficarmos silenciosos porque ao não reagirmos estamos a ser cúmplices dos mesmos por concordância, omissão ou cobardia.
O que está a acontecer entre Gaza e Israel é um desses momentos. É intolerável, é inaceitável e é execrável a chacina que o governo de Israel e as suas poderosíssimas forças armadas estão a executar em Gaza a pretexto do lançamento de roquetes por parte dos resistentes (“terroristas”) do movimento Hamas.

Importa neste preciso momento refrescar algumas mentes ignorantes ou, muito pior, cínicas e destorcidas:
- Os jovens palestinianos, que são semitas ao mesmo título que os judeus esfaraditas (e não os askenazes que descendem dos kazares, povo do Cáucaso), que desesperados e humilhados actuam e reagem hoje em Gaza são os netos daqueles que fugiram espavoridos, do que é hoje Israel, quando o então movimento “terrorista” Irgoun, liderado pelo seu chefe Menahem Beguin, futuro primeiro ministro e prémio Nobel da Paz, chacinou à arma branca durante uma noite inteira todos os habitantes da aldeia palestiniana de Deir Hiassin: cerca de trezentas pessoas. Esse acto de verdadeiro terror, praticado fria e conscientemente, não pode ser apagado dos Arquivos Históricos da Humanidade (da mesma maneira que não podem ser apagados dos mesmos Arquivos os actos genocidários perpetrados pelos nazis no Gueto de Varsóvia e nos campos de extermínio), horrorizou o próprio Ben Gourion mas foi o acto hediondo que provocou a fuga em massa de dezenas e dezenas de milhares de palestinianos para Gaza e a Cisjordânia possibilitando, entre outros factores, a constituição do Estado de Israel..
- Alguns, ou muitos, desses massacrados de hoje descendem de judeus e cristãos que se islamisaram há séculos durante a ocupação milenar islâmica da Palestina. Não foram eles os responsáveis pelos massacres históricos e repetitivos dos judeus na Europa, que conheceram o seu apogeu com os nazis: fomos nós os europeus que o fizemos ou permitimos, por concordância, omissão ou cobardia! Mas são eles que há 60 anos pagam os nossos erros e nós, a concordante, omissa e cobarde Europa e os seus fracos dirigentes assobiam para o ar e fingem que não têm nada a ver com essa tragédia, desenvolvendo até à náusea os mesmos discursos de sempre, de culpabilização exclusiva dos palestinianos e do Hamas “terrorista” que foi eleito democraticamente mas de imediato ostracizado por essa Europa sem princípios e anacéfala, porque sem memória, que tinha exigido as eleições democrática para depois as rejeitar por os resultados não lhe convirem. Mas que democracia é essa, defendida e apregoada por nós europeus?
- Foi o governo de Israel que, ao mergulhar no desespero e no ódio milhões de palestinianos (privados de água, luz, alimentos, trabalho, segurança, dignidade e esperança ), os pôs do lado do Hamas, movimento que ele incentivou, para não dizer criou, com o intuito de enfraquecer na altura o movimento FATAH de Yasser Arafat. Como inúmeras vezes na História, o feitiço virou-se contra o feiticeiro, como também aconteceu recentemente no Afeganistão.
- Estamos a assistir a um combate de David (os palestinianos com os seus roquetes, armas ligeiras e fundas com pedras...) contra Golias (os israelitas com os seus mísseis teleguiados, aviões, tanques e se necessário...a arma atómica!).
- Estranha guerra esta em que o “agressor”, os palestinianos, têm 100 vezes mais baixas em mortos e feridos do que os “agredidos”. Nunca antes visto nos anais militares!
- Hoje Gaza, com metade a um terço da superfície do Algarve e um milhão e meio de habitantes, é uma enorme prisão. Honra seja feita aos “heróis” que bombardeiam com meios ultra-sofisticados uma prisão praticamente desarmada (onde estão os aviões e tanques palestinianos?) e sem fuga possível, à semelhança do que faziam os nazis com os judeus fechados no Gueto de Varsóvia!
- Como pode um povo que tanto sofreu, o judeu do qual temos todos pelo menos uma gota de sangue (eu tenho um antepassado Jeremias!), estar a fazer o mesmo a um outro povo semita seu irmão? O governo israelita, por conveniências políticas diversas (eleições em breve...), é hoje de facto o governo mais anti-semita à superfície da terra!
- Onde andam o Sr. Blair, o fantasma do Quarteto Mudo, o Comissário das Nações Unidas para o Diálogo Inter-religioso e os Prémios Nobel da Paz, nomeadamente Elie Wiesel e Shimon Perez? Gostaria de os ouvir! Ergam as vozes por favor! Porque ou é agora ou nunca!
- Honra aos milhares de israelitas que se manifestam na rua em Israel para que se ponha um fim ao massacre. Não estão só a dignificar o seu povo, mas estão a permitir que se mantenha uma janela aberta para o diálogo, imprescindível de retomar como único caminho capaz de construir o entendimento e levar à Paz!
- Honra aos milhares de jovens israelitas que preferem ir para as prisões do que servir num exército de ocupação e opressão. São eles, como os referidos no ponto anterior, que notabilizam a sabedoria e o humanismo do povo judeu e demonstram mais uma vez a coragem dos judeus zelotas de Massada e os resistentes judeus do Gueto de Varsóvia!
Vergonha para todos aqueles que, entre nós, se calam por cobardia ou por omissão. Acuso-os de não assistência a um povo em perigo! Não tenham medo: os espíritos livres são eternos!

É chegado o tempo dos Seres Humanos de Boa Vontade de Israel e da Palestina fazerem calar os seus falcões, se sentarem à mesa e, com equidade, encontrarem uma solução. Ela existe! Mais tarde ou mais cedo terá que ser implementada ou vamos todos direito ao Caos: já estivemos bem mais longe do período das Trevas e do Apocalipse.
É chegado o tempo de dizer BASTA! Este é o meu grito por Gaza e por Israel (conheço ambos): quero, exijo vê-los viver como irmãos que são.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A CRISE



Será que os remédios que faliram no século 20 serão os antídotos da crise que parece liquefazer o capitalismo nos inícios do século 21?


MUITO JÁ se escreveu sobre a crise. Crise dos "subprime", crise especulativa, bancária, financeira, global, réplica da crise de 1929 etc. Floresce uma fenomenologia da crise, em que o que se falou ontem é hoje obsoleto. Os grandes jornais, começando pelo "Economist", falam em "crise de confiança", e a máxima se esparrama. A crise se resume a um ato volitivo. "Fiducia!", diriam os latinos. Eis a chave analítica. Bush, Sarkozy e Gordon Brown redescobriram, então, o estatismo todo privatizado como receituário para eliminar a desconfiança. O remédio neokeynesiano, sepultado nas últimas quatro décadas, ressurge como salvação para o verdadeiro caminho da servidão. Aqui, Lula falou em "espirro nos EUA e marolinha no Brasil". E, ao modo dos pícaros, a cada semana aparece uma nova história, com o calão raspando no chão. Pouco importa que a versão mais recente seja o oposto da anterior, pois há um traço de coerência no discurso: falar o que não faz e fazer o que não fala. Versão íngreme do grande Gil Blas de Santillana. Para além da fenomenologia da crise, vale recordar aqueles (ao menos alguns) que procuraram ir além das aparências. Robert Kurz, por exemplo, vem alertando, desde inícios dos anos 1990, que a crise que levou à bancarrota os países do chamado "socialismo real" (com a URSS à frente), não sem antes ter devastado o Terceiro Mundo, era expressão de uma crise do modo de produção de mercadorias que agora migra em direção ao coração do sistema capitalista. François Chesnais apontou as complexas conexões existentes entre produção, financeirização ("a forma mais fetichizada da acumulação") e mundialização do capital, enfatizando que a esfera financeira nutre-se da riqueza gerada pelo investimento e da exploração da força de trabalho dotada de múltiplas qualificações e amplitude global. E é parte dessa riqueza, canalizada para a esfera financeira, que infla o flácido capital fictício. E István Mészáros, há muito mais tempo ainda, vem sistematicamente indicando que o sistema de metabolismo social do capital, depois de vivenciar a era dos ciclos, adentrou em uma nova fase, inédita, de crise estrutural, marcada por um continuum depressivo que fará aquela fase virar história. Não é por outro motivo que, embora alterne o seu epicentro, a crise se mostra longeva e duradoura. E mais: demonstrou a falência dos dois mais arrojados sistemas estatais de controle e regulação do capital experimentados no século 20. O primeiro, de talhe keynesiano, que vigorou especialmente nas sociedades marcadas pelo "welfare state". O segundo, de "tipo soviético", que, embora fosse resultado de uma revolução social que procurou destruir o capital, foi por ele fagocitado. Em ambos os casos o ente regulador foi desregulado. Processo similar parece ocorrer na China de nossos dias, laboratório excepcional para a reflexão crítica. E, afinal, quem vai pagar a conta? A OIT adverte: para 1,5 bilhão de trabalhadores, o cenário é turbulento e será marcado pela erosão salarial e ampliação do desemprego, não só para os mais empobrecidos mas também para as classes médias que "serão gravemente afetadas" ("Relatório Mundial sobre Salários 2008/2009"). Se uma das três grandes montadoras dos EUA (GM, Ford e Chrysler) fechar as portas, evaporam-se milhões de empregos, com repercussões funestas para o desemprego mundial. O Eurostat, que oferece as estatísticas da União Europeia, calcula que, se a indústria automotiva de lá cortar 25% dos empregos, gerará, numa tacada, 3 milhões de desempregados. Na China, com quase 1 bilhão que compreende sua população economicamente ativa, cada ponto percentual a menos no PIB corresponde a uma hecatombe social, e os operários deserdados das cidades não têm mais o campo como refúgio. O PC chinês pode esperar nova onda de revoltas, ampliando o cenário da tragédia atual. Sem falar nos imigrantes do mundo, errantes em busca de qualquer labor, que agora são expulsos em massa do "trabalho sujo", uma vez que ele também passa a ser cobiçado pelos trabalhadores nativos, inflados pela xenofobia e pressionados pela anorexia social. Enquanto isso, uma parte grandona da "esquerda" atolou-se tentando remendar o velho sistema do mercado. Está, agora, em estado pasmado. Paralelamente, a magistral crítica da economia política do capital parece renascer das cinzas... Será que os remédios que faliram no longo século 20 serão os antídotos da crise que parece liquefazer o capitalismo nos inícios do século 21?


RICARDO LUIZ COLTRO ANTUNES, 55, é professor titular de sociologia do trabalho do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor, entre outros livros, de "Os Sentidos do Trabalho".


Publicado no Folha de S. Paulo