terça-feira, 17 de abril de 2007

Ultraimperialismo ou as malhas que o império tece




À visão algo idílica do "Império", de Negri e Hardt, contrapomos o conceito de imperialismo global, qualitativamente distinto dos velhos imperialismos antagónicos entre si, do tempo de Lénine, dotados de impérios coloniais próprios.

A tese central de Toni Negri e Michael Hardt, expressa na obra "Império"1 é de que a era do imperialismo acabou e ao capitalismo globalizado corresponde a uma nova forma de soberania em rede mundial: "O império é o sujeito político que regula efectivamente estes intercâmbios globais, o poder soberano que governa o mundo".
Esta tese central surge articulada com outras duas, a saber: a expansão do capitalismo mercantilizou todos os nichos da vida social, incluindo sectores tradicionalmente confiados ao Estado como a saúde, a educação e a segurança social - nada escapa à ditadura do mercado - fenómeno que designam de biopolítica; e um novo sujeito histórico emergiu como motor da transformação social e de alternativa, substituindo o proletariado: a multidão.
Se é verdade que estas teses formam um todo, este artigo concentra atenções sobre a primeira: a época do imperialismo deu lugar à do império. Não sem antes sublinhar que, para além dos nossos desacordos, a obra de Negri e Hardt responde a um conjunto de novos fenómenos e características do capitalismo global (que não podem nem devem ser ignorados), elaborando sobre eles uma visão particular do mundo contemporâneo.
Ultraimperialismo?
A ideia de que a época do imperialismo foi superada, desenvolvida no capítulo "Do imperialismo ao Império", evoca polémicas marxistas de há quase um século, em particular de Lénine contra Kautsky. Negri e Hardt estão conscientes da inevitabilidade desta associação e fazem-lhe referência expressa:"Lénine considerou a posição de Kautsky, que também tomou a obra de Hilferding como ponto de partida, como ainda mais utópica e perigosa. Kautsky propôs, efectivamente, que o capitalismo poderia alcançar uma unificação política e económica real do mercado mundial. Os violentos conflitos do imperialismo poderiam ser seguidos por uma nova fase pacífica do capitalismo, uma fase ultraimperialista 2 Os magnatas do capital poderiam unir-se num único monopólio mundial, substituindo a competição e as lutas entre os capitais financeiros nacionais por um capital financeiro internacionalmente unificado."
Toni Negri resume assim a crítica leninista do "ultraimperialismo":"Lénine concordou (...) que existe uma tendência no desenvolvimento capitalista para a cooperação internacional dos diversos capitais financeiros nacionais e, no limite, para a constituição de um único monopólio mundial. Mas combateu energicamente o facto de Kautsky utilizar essa visão dum futuro pacífico para negar a realidade presente; por isso, Lénine denunciou o "desejo profundamente reaccionário de acalmar as contradições" da situação actual. Em vez de aguardar por algum tipo de pacífico ultraimperialismo no futuro, os revolucionários deveriam actuar agora sobre as contradições inerentes à actual organização imperialista do capital."
(para ler o resto do artigo clique no título)

1 comentário:

Anónimo disse...

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