quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A desobediência civil, os transgénicos e o governo


O grupo de jovens ecologistas que atacou o milho transgénico tem recebido toda a qualidade de insultos: bandalhos, fedelhos, terroristas, imbecis, saltimbancos, energúmenos, bandidos…
O motivo principal é terem violado a propriedade privado e destruído umas quantas plantas de milho. Na verdade, o alvo escolhido poderia ter sido melhor mas convenhamos que um agricultor que tem 51 hectares não é um pobre, inocente e humilde agricultor. Um proprietário de uma área com 51 campos de futebol não é um pobre agricultor.
O referido agricultor sabe muito bem – apesar de todas as autorizações dadas pelo ministério da desagricultura – o que é milho transgénico e quais as suas possíveis consequências no ambiente e na saúde. Sabe-o mas o dinheiro que ganha a curto prazo fala mais alto.
Devemos reconhecer que a acção permitiu mediatizar o problema das plantas transgénicas e que hoje há 10 milhões de pessoas que ouviram falar do problema e antes o ignoravam.
A desobediência civil entrou também nos ouvidos de muitos. Portugal tão atrasado que está na luta social e na radicalidade ouviu agora falar de uma nova forma de luta. E o problema com a desobediência civil não está se o motivo é ou não consensual na população (tão atrasados que somos nunca faríamos nenhuma), está na escolha exacta do alvo de forma a ganhar mais apoios e aliados e não a perdê-los. Foi aí a falha. Mas como a luta é uma aprendizagem…
Os intelectuais do sistema resolveram atacar furiosamente a desobediência civil. Afinal nada que Mahatma Gandhi não tenha feito na Índia, Nelson Mandela na África do Sul, Martin Luther King nos EUA ou a Greenpeace em França
Mas voltemos à propriedade privada.
O poder, a burguesia e os seus representantes saltaram que nem molas na defesa do pilar do sistema capitalista. Do faz-de-conta ministro a Cavaco Silva, da associação dos grandes agricultores ao PSD e ao CDS – todos vieram exigir amplo castigo aos violadores do altar da propriedade privada. Jaime Silva chegou ao ponto de oferecer, ilegalmente, os serviços jurídicos do ministério. Antes que a acção faça escola e se estimule na juventude e na luta social há que “dar porrada neles”!
O governo, a comissão de negócios da burguesia, foi célere na defesa do seu interesse privado – não na defesa da saúde pública que este caminho das multinacionais da manipulação genética começa a pôr em causa. Propriedade privada sim – saúde pública, ambiente público não.
As respostas e os silêncios dos partidos também são significantes.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bem

Saboteur
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