terça-feira, 14 de agosto de 2007
As diferenças aumentam. Do capitalismo português ao socialismo chinês
O actual Estado continua a sua função de transferência de capital e propriedade para a burguesia. Os dados hoje relatados pela imprensa mostra como o atrasado capitalismo português é também o mais agreste na redistribuição social.
Os dados divulgados pelo Jornal de Negócios confirmam que Portugal “ é hoje não apenas o campeão, mas também o Estado-membro da União Europeia onde as disparidades de rendimentos mais se acentuaram nos últimos anos”. “Os últimos valores disponíveis apontam para que o fosso entre ricos e pobres nunca tenha sido tão cavado como até hoje”. “ Os 20% mais ricos apresentavam rendimentos 8,2 vezes superiores aos 20 % mais pobres”. E se estes dados incidissem sobre os 10 ou 5 % então as diferenças aumentariam talvez exponencialmente. “Portugal foi um dos países onde a luta contra as desigualdades fez marcha atrás nos últimos anos”.
A publicação destes dados, via Eurostat e INE, reconfirma as consequências das políticas neoliberais também prosseguidas pelo governo PS.
Mais há mais!
Segundo o Público, Portugal é na EU a 15 quem menos gasta com políticas de apoio à habitação e exclusão social, desemprego e apoio às famílias e crianças. Respectivamente 3,5%, 5,7% e 5,3% dos gastos dos benefícios sociais.
Também na segurança social os patrões, em Portugal, são dos menos sobrecarregados. “Em 2004, 42,2 por cento das despesas sociais foram pagas pelo OE, um valor que fica acima dos 35,5 por cento gastos, em média, pela UE a 15. Já nas contribuições dos privados - trabalhadores e empregadores - os números referentes a Portugal mostram que ficamos abaixo da média, quer da UE a 15 como a 25. E dentro das contribuições, a quota paga pelas entidades empregadoras é a que se destaca mais por apresentar valores mais baixos. Os empregadores financiavam 31,7 por cento das despesas efectuadas, enquanto na média da UE a 15 e a 25 esse valor atinge os 38,6 por cento. Já os trabalhadores pagaram 15,7 por cento das despesas, enquanto na média da UE a 15 e a 25, esse valor ficou próximo dos 21 por cento”.
A musa inspiradora continua a ser o capitalismo norte-americano. Nesse mesmo país onde a dificuldade de sair da exclusão é das maiores do mundo – ao contrário do apregoado sonho – em pouco mais de duas décadas o diferencial do salário médio entre os presidentes e o dos trabalhadores passou de 40 para 400. Por cá o dedo continua apontado aos administradores de sucesso, que profusamente inundam jornais e televisões, mas cujas remunerações mais do que triplicaram entre os anos de 2005 e 2006.
Segundo cálculos do jornal de Negócios, relativos a 2006 “as remunerações dos executivos das empresas do PSI-20 foram, em média, 33 vezes superiores às dos trabalhadores. Isto após terem crescido 9% face ao ano anterior”. Como exemplo maiores, o Negócios diz-nos que na Semapa esta diferença salarial média é de 219 vezes, na Portucel é de 73 e no BCP é de 67.
O dogma do crescimento e o socialismo chinês
A argumentação governamental é a de que só o crescimento da economia garantirá mais riqueza, mais distribuição e mais emprego. Estes dados vêm prová-lo no preciso momento em que o governo diz que a economia cresce. E é verdade que é a que cresce menos da Europa.
Mas é o exemplo do capitalismo chinês que mais chama a atenção para quem se reclama de comunista.
O país que bate sucessivos recordes de crescimento económico é “hoje muito mais desigual do que era há uma década, com os 20% mais ricos a absorverem 47,3% do total da riqueza, contra 40,7% em 1003.
Deng Xiaoping, no início da Reforma e Abertura, definia bem este caminho tortuoso do socialismo de características chinesas. “É impossível aumentar o nível de vida de todos os chineses ao mesmo tempo. Algumas regiões e algumas pessoas devem ser autorizadas a enriquecer mais depressa do que outras. Socialismo não é pobreza. Enriquecer é glorioso”.
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