sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A tragédia da esquerda italiana


A esquerda italiana é protagonista de uma tragédia. Há alguns anos atrás os euro-comunistas passaram-se com armas e bagagens para o campo da social-democracia e do capitalismo. Sobreviveram um conjunto de comunistas que assumiram a reedição do partido através do Partido dos Comunistas Italianos ou da Refundação Comunista.
Esta liderada por um ex combatente sindical, Fausto Bertinotti, impulsionou os movimentos sindicais e sociais, fomentou a combatividade contra o neoliberalismo aplicado por Silvio Berlusconni.
Foi também o tempo da auge do Fórum Social Europeu e do Fórum Social Mundial. Fausto Bertinotti escreveu então as doze teses (ler aqui). Elas foram um aroma fresco nas perspectivas da esquerda. Porque rompiam os acordos de governo com os partidos social-democratas, porque colocavam a tónica decisiva que o combate ao capitalismo era não só uma importância de alternativa mas também de pura sobrevivência. Fausto escreveu:“O facto de que possa construir-se uma transição procurando uma aliança de governo com os reformistas, facto fixado por uma identidade histórica herdada do passado, sofre um golpe mortal na situação actual".
Por ironia de um destino que parece fadar a esquerda para a capitulação Fausto assumiu as dores da sua própria morte política. A Refundação sustentou o governo Prodi, aceitou o ataque aos serviços e aos funcionários públicos, aceitou a guerra no Afeganistão e até novas bases militares da NATO no seu país (que antes queria expulsar) – tudo em nome do medo do papão de Il Cavalieri. O resultado só poderia ser desastroso.
Foi a própria direita quem lhe fez a folha e obrigou à queda do governo Prodi. Os tristes episódios desta novela tiveram até cenas de agressão em pleno parlamento. Tudo uma vergonha.
As sondagens indicam farta maioria para Berlusconni. A direita e a extrema-direita parecem ter posta a passadeira de acesso ao poder. Mais uma vez, a social-democracia, os partidos da internacional socialista, com a ajuda da esquerda, abrem o espaço político para o regresso da direita.
Novos e fortes ataques aos trabalhadores aí vêem. Novas dificuldades porque aumenta a pressão reaccionária da direita na Europa, porque o centro do império ganha ainda mais alianças no centro da Europa.
O momento político é acompanhado pela recomposição partidária. A Itália está a formatar-se para um poder bipartidário. Na “sujeira de Nápoles” a burguesia italiana parece quer estabilidade.
O PCI, a Refundação e mais alguns vão juntar-se num novo partido. Esta fusão, sem críticas visíveis à política do governo Prodi onde estas forças se inseriam, será mais uma recomposição até ao anúncio da próxima morte?

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