domingo, 27 de janeiro de 2008

Jerónimo de Sousa contra Alvaro Cunhal


As notícias sobre o congresso da CGTP que este fim-de-semana fazem páginas inteiras de jornal merecem umas n0tas comparativas.

No tempo de Cunhal a CGTP aparecia com uma certa capa de abertura. Vários dirigentes do Conselho Nacional pertenciam a diferentes correntes políticas apesar de nunca ter sido permitido às correntes mais à esquerda terem acesso à Comissão Executiva. O movimento sindical unitário era visto pela direcção do PCP como uma frente onde estavam os seus membros mas que trabalhavam em conjunto com outras correntes. Fazia-se uma certa de questão de mostrar alguma abertura - ainda que muitas vezes fosse retórica.

Mas nos 10 últimos anos acentuaram-se fortemente as características menos democráticas no msu. Imensos sindicatos mudaram os estatutos para dificultar ao máximo o aparecimento de listas concorrentes. As listas aos corpos gerentes passaram a ser mais de 200 membros em vários sindicatos, passaram a incorporar o todo nacional e a impedir a apresentação - pelos trabalhadores - de listas às respectivas direcções regionais. Alguns sindicatos passaram o mandato para o tempo máximo de 4 anos. A febre controleira foi tal vários dos grupos dirigentes que protagonizaram as alterações deixaram eles mesmos de conseguirem fazer listas obrigando-os a novas alterações de estatutos e a diminuírem os nº de dirigentes ou de direcção regionais. Foi assim no SIESI ou nos Ferroviários.

Mais recentemente a coisa piorou. Isto porque a nova linha sindical de Jerónimo Sousa acentuou a sua separação com a linha Cunhal. Os sindicatos passaram a ter exclusivamente militantes do partido nas posições mais importantes. Mesmo como membros de direcções muitos activistas não militantes do PCP passaram a personas não gratas. Outros, membros do PCP mais defensores do espírito unitário do msu opuseram-se - em regra foram ou estão a ser corridos. Foi assim no SPTFN. Em último recurso fazem-se listas só de "malta de confiança" para tentar correr com os não alinhados. Foi assim no SINTTAV ou no SPGL - com derrotas ortodoxas.

Agora os últimos episódios desenvolvem-se no CN e na Executiva da central. O desenlace já se espera.

A pluralidade do movimento sindical é a consequência natural da pluralidade da classe. A pluralidade na classe, a dialéctica na classe, a luta política na classe são coisas muito boas. São coisas necessárias ao desenvolvimento da consciência de classe - para o assumir da consciência da classe em si, para si.

Anular a pluralidade nos órgãos da classe, embora em nome de uma identidade de um partido que se diz da classe, é anular administrativamente os factores que favorecem o avanço proletário. É ajudar a influência da ideologia e da alienação burguesa sobre a classe.

É isso que talvez esteja a acontecer.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu não concordo; penso que o facto de haver mais comunistas nas posições directivas se deve ainda fundamentalmente ao seu maior envolvimento/dedicação às lutas sindicais, coisa natural num militante comunista.

Mas gostei do artigo. Sou comunista, é claro, mas apesar de não concordar com o ponto essencial, achei-o muito bem fundamentado para a opinião que apresenta. Faz reflectir sobre um problema que se não aconteceu, não é bom que aconteça - a perda de pluralidade.

Cumprimentos e continuação

Anónimo disse...

Parece que os acordos se aproximam. Vamos ver o que dá.