domingo, 16 de março de 2008

A CDU pode acabar?

O jornal Expresso traz uma notícia, segundo a qual, “Octávio Teixeira quer PCP sozinho na corrida eleitoral” posição que já teria sido assumida na Antena 1.
A expressão orgânica ou eleitoral pública que as pessoas que se consideram comunistas tem variações na Europa e no tempo.
Lenine conviveu com um partido plural e de tendências. Estaline “achou melhor” fazer um alinhamento único e acabar com a pluralidade interna; de uma forma bem violenta, como se sabe.
Na Europa conhecemos partidos plurais, de afirmação comunista, como a Refundação Comunista. O PCEspanhol, por sua vez, actua numa frente eleitoral, a Esquerda Unida, profusamente dividida em tendências, organizações e nacionalidades. O PCF candidata-se por si próprio mas tem assegurado, até agora, acordos com o PS por exemplo para a 2ª volta das autárquicas. O PCdeItália vai agora juntar-se com a Refundação num partido novo. O PCdoBrasil, vive (viveu?) uma aliança de poder com o PT mas já lançou uma plataforma nova, o Bloco de Esquerda…
Em Portugal, os comunistas da UDP, e outros marxistas participam no Bloco de Esquerda, assumindo este como um partido plural, com um programa que se tem construído a partir das causas fundamentais da luta e não tanto pelo objectivo final e estratégico.
Enfim há vários matizes e entendimentos sobre a forma eleitoral de participação das pessoas que se entendem comunistas.
A notícia de que a CDU pode acabar traz outra possibilidade ao nosso olhar. As pessoas que dirigem o PCP poderão concluir que está ultrapassada a fase de que o partido necessita de uma plataforma eleitoral para não concorrer directamente às eleições; de que, o partido, por si próprio pode fazê-lo não necessitando de alianças eleitorais mais ou menos reais.
De facto, a CDU não constitui, na realidade, uma plataforma de aliança; a Intervenção Democrática, com o devido respeito, só existe no papel ou nem isso; o PEV é, na realidade, um destacamento de quadros para tentar captar os apoios à causa ambientalista e tentar ocupar um espaço político; os independentes, salvo raríssimas excepções, tanto participarão nos processos eleitorais com a CDU ou sem ela.
A mudança táctica no movimento sindical, abandonando a linha Álvaro Cunhal de dirigir politicamente com alianças e passando a dirigir orgânica e estruturalmente, poderá ser agora reflectida na táctica eleitoral. Um sinal disso mesmo poderá ter sido a manifestação que o PCP organizou no passado 1 de Março. Reconheça-se consequente com a campanha “sim é possível um partido mais forte” – ou seja a afirmação do partido. São mudanças que só temos que respeitar pois só aos próprios compete decidir.
Mas tudo isto motiva algumas perguntas interessantes, e que se podem fazer:
O que os comunistas necessitam hoje é de afirmação de um partido leninista? Ou seja, a luta de classes hoje tem expressão idêntica à luta de classes ao tempo em que Lenine elaborou as suas posições sobre o partido? O que é hoje o proletariado? Como é a organização da produção? Qual o papel da comunicação hoje e quais as consequências das profundas transformações que viveu? Como se estabelecem hoje, em Portugal, alianças sociais? Elas só têm expressão orgânica? A disputa de maiorias sociais depende, em que forma, da estrutura do partido ou da sua expressão eleitoral?
Procurando olhar a vida com um olhar real e dialéctico, procurando responder às interrogações da luta de classes hoje, tentando pensar de forma marxista – como Lenine pensou – e não tentando duplicar as soluções para a luta de classes daquele tempo, talvez nos saltem inquietações poderosas.
Às vezes podemos não saber as respostas, mas se soubermos começar a fazer as perguntas já estamos a avançar!

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