domingo, 29 de junho de 2008

Notas rápidas sobre a táctica de Sócrates


Sócrates joga uma táctica para tentar enganar o zé povinho, a de tentar convencer “todo mundo” que o novo código de trabalho é uma coisa muito boa para os trabalhadores. Coisa tão boa que os patrões adoraram – claro, porque eles só querem o nosso bem.
Quem não quer é o BE e o PCP. Esses são atrasados, conservadores, só querem que a competitividade do país não avance e, portanto, que a gente não fique ganhando como os chineses e trabalhando como os indianos.
A táctica de martelar que o código diminui a precariedade há-de ser feita até à exaustão. E Sócrates tem alguns objectivos com esta táctica:
1. É a peneira com que pretendem tapar o sol;
2. É o “seguro de vida” daqueles que sempre vendem os nossos direitos, a UGT;
3. Visa provocar uma divisão na classe trabalhadora, pondo os precários a defender o código e “atacar” os efectivos.
Sócrates usa ainda uma variante na sua táctica: a de que o PCP controla os sindicatos e não lhe dá autonomia. Essa é, essencialmente, uma verdade; mas como dizia o poeta Aleixo “para a mentira ser segura e atingir profundidade, tem que trazer à mistura qualquer coisa de verdade”. Porque Sócrates, esperto, o faz?
1. Sócrates quer meter um isco para a esquerda esquecer o essencial, o novo código, e se meter à bulha sobre se há ou não autonomia nos sindicatos – abrindo-se uma frente de conflito não contra o governo mas entre a própria esquerda;
2. Sócrates faz esquecer a vergonha descarada que é nem sequer se chegar àquilo que foi a governação Guterres: limitar os contratos a prazo e passá-los a efectivos quando fossem renovados sucessiva ou intercaladamente.
Está muito bem Carvalho da Silva quando pretende alargar alianças na contestação contra o governo.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O burro, o PS, o BCP, a Igreja Universal e a Sonae



chegada por e-mail
Certa vez, quatro meninos foram ao campo e, por 100 €, compraram o burro de um velho camponês.
O homem combinou entregar-lhes o animal no dia seguinte.
Mas, quando eles voltaram para levar o burro, o camponês disse-lhes:
- Sinto muito, amigos, mas tenho uma má notícia. O burro morreu.
- Então devolva-nos o dinheiro!
- Não posso, já o gastei todo.
- Então, de qualquer forma, queremos o burro.
- E para que o querem? O que vão fazer com ele?
- Nós vamos rifá-lo.
- Estão loucos? Como vão rifar um burro morto?
- Obviamente, não vamos dizer a ninguém que ele está morto.

Um mês depois, o camponês encontrou-se novamente com os quatro garotos e perguntou-lhes:
- E então, o que aconteceu com o burro?
- Como lhe dissemos, nós rifámo-lo. Vendemos 500 rifas a 2 € cada uma e arrecadamos 1.000 €. - E ninguém se queixou?
- Só o ganhador, porém devolvemos-lhe os 2 €, e pronto!

O IMORAL DA HISTÓRIA:
Os quatro meninos cresceram.
Um fundou um banco chamado **BCP**,
Outro uma empresa chamada **SONAE' ;
Outro uma igreja chamada **Universal**
E o último um partido político chamado **PS**.


E estão agora a governar Portugal!!!!

... ...

E há um que perguntava: e o burro sou eu?


quarta-feira, 25 de junho de 2008

Protestar contra o novo código

As reações da esquerda em texto:
declaração da CGTP à saída da (des)concertação social
reação e acção dos precários inflexíveis
comunicado do PCP
Vídeos:
Carvalho da Silva, apelando à mobilização

Luís Fazenda em declaração parlamentar e em resposta a pergunta de Jorge Machado

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Sócrates ... e a inteligência

Sócrates ... e a inteligência
Mudam as personagens.....
José Sócrates visita a Inglaterra e vai jantar com a rainha.
Às tantas, pergunta:
- Vossa majestade, a senhora impressiona-me. Como pode estar sempre
cercada de gente inteligente? Como é que a senhora faz?
Ela responde:
- É muito simples. Eu deixo-os sempre em alerta. Faço um teste de QI
regularmente, só para ver se a inteligência deles ainda está bem viva.
Sócrates, surpreendido:
- E como é que a senhora faz isso?
A rainha concorda em mostrar um exemplo. Pega no telefone e liga ao
Tony Blair:
- Bom dia, Tony. Tenho um pequeno teste para ti...
Tony, todo educado:
- Bom dia, Majestade. Tudo bem. Estou pronto para o teste. Pode
perguntar.
- Muito bem, Tony. O teste é o seguinte:
'é filho do teu pai e da tua mãe, mas não é teu irmão nem tua irmã.
Quem é?'
- Muito simples, Majestade. Sou eu mesmo...
- Bravo, Tony. Como sempre, inteligente. Até à próxima.
Sócrates fica impressionadíssimo. De volta a Portugal, decide pôr em
prática a técnica que aprendeu com a rainha.
Telefona à ministra da educação Maria de Lurdes Rodrigues e pergunta:
- Maria, é o Sócrates, companheira. Tenho aqui um pequeno teste de
inteligência para ti.
- Tudo bem, pergunta.
- É o seguinte: é filho da tua mãe e do teu pai, mas não é teu irmão
nem tua irmã. Quem é?
- Ah, Sócrates, eu não esperava um teste assim, de repente. Tenho
que pensar alguns minutos. Telefono-te depois, ok?
- Sem problemas. Até logo.
Ela de seguida liga para o Cavaco Silva, já que ele tem fama de
inteligente.
Faz a mesma pergunta que lhe foi feita, ao que o Cavaco responde:
- Ora bolas Maria, sou eu mesmo, como é óbvio!...
- Muito bem, perfeito, Cavaco! Obrigado.
E volta a ligar ao Sócrates:
- Sócrates, podes repetir a tua pergunta, por favor? Creio que tenho
a resposta.
- Muito bem: é filho da tua mãe e do teu pai, mas não é teu irmão
nem tua irmã. Quem é?
E a ministra da educação, vitoriosa:
- Simples!!! Ora bolas, é o Cavaco Silva!!!
- Não, estúpida!!! Tens que treinar mais!!! É o Tony Blair!!!

recebido por e-mail

domingo, 22 de junho de 2008

Lula ataca quer aumentar idade de reforma

imagem: http://meuslivros.weblog.com.pt/arquivo/POBRE-45.bmp
artigo em Socialismo e Liberdade

"Nova Reforma da Previdência quer retirar direitos dos trabalhadores


Previdência Social, estas palavras acompanham a vida dos trabalhadores brasileiros como sinônimo de esperança, até os seus 65 a 70 anos de idade, quando se vêem na expectativa de exercer os seus direitos a uma justa aposentadoria por seu trabalho e contribuição ao país. Entretanto, infelizmente o sonho a uma velhice com dignidade vem tornando-se um pesadelo e as aposentadorias um verdadeiro castigo.

Nos últimos anos, nossos governantes fizeram sucessivas “reformas da previdência”, verdadeiras contra-reformas, já que retiraram ou reduziram direitos históricos do povo. Agora, surgem notícias de que o governo Lula mexerá mais uma vez nas regras previdenciárias. É importante lembrar que em 2003 o atual governo aprovou uma reforma que afetou diretamente os servidores públicos, desvalorizando as carreiras do setor e os serviços essenciais prestados pelo Estado.

Mais uma vez é retomado o discurso de que os atuais direitos previdenciários não podem continuar. Querem aumentar a idade mínima para o pedido de aposentadoria e o tempo de contribuição dos trabalhadores. Utilizam a boa notícia do aumento da expectativa de vida dos brasileiros, para ampliar a exploração sobre o povo. Hoje, a maioria dos trabalhadores sonha com uma aposentadoria digna, para aproveitar a melhor idade. Porém, com os baixos valores recebidos, não lhes restam alternativas senão continuar na labuta, mesmo que em algum subemprego.

Como se não bastassem as dificuldades crescentes de acesso ao auxílio doença e à aposentadoria por invalidez, recentemente o governo acenou trocar o fator previdenciário pela idade mínima. Segundo a proposta, o trabalhador deixaria de ser penalizado pelo fator previdenciário, porém, teria o direito a aposentaria somente aos 65 anos para os homens e 60 às mulheres. Neste caso, o prejuízo aos trabalhadores seria enorme, particularmente para aqueles que trabalharam desde muito cedo.

Há uma profunda e inadmissível incoerência nas ações desses governos. Como celebrar a terceira idade de forma sadia, feliz e proveitosa, se a cada ano descobrimos que mais um obstáculo foi colocado para a tão sonhada aposentadoria pelas sucessivas reformas previdenciárias. Num país marcado pelas desigualdades sociais, é de fato surpreendente que um governo que se diz identificado com a causa dos trabalhadores, ao invés de taxar as grandes fortunas opte por sacrificar o povo. Por isso, os trabalhadores devemos dizer “não” a mais essa reforma da previdência e unidos lutarmos contra a retirada de direitos do povo. "

Horácio Neto é advogado e vereador em São Caetano do Sul (PSOL-SP)

sábado, 14 de junho de 2008

Exploração e reação popular



Publicado no Correio da Cidadania


A parte mais consciente do povo brasileiro assiste perplexa ao avanço selvagem do capital neoliberal, que conta com a conivência e incentivos fiscais, financeiros e políticos dos nossos governantes. Dinheiro "a rodo" é fornecido pelo BNDES a juros baixíssimos para satisfazer a volúpia dos grandes empresários ávidos de mais e mais riquezas, enquanto suas dívidas não são pagas conforme o contrato de empréstimos e vão sendo roladas, anos após anos, quando não caem no famoso "fundo perdido", sempre com o povo arcando com o esse roubo deslavado.
A Amazônia continua a ser destruída com a exploração mineral, que é altamente predatória e poluidora do meio ambiente; com a implantação da produção da cana-de-açúcar para produzir etanol para a exportação; com o descontrole total da política nacional sobre o desmatamento. Lá, as empresas estrangeiras vão ocupando hectares e mais hectares de terras para a produção alimentar voltada para a exportação e superalimentação dos países do primeiro mundo; os latifundiários grileiros expulsam posseiros, ribeirinhos e pequenos produtores rurais, continuam a política de marginalização e extermínio das populações indígenas, geram o aumento do trabalho escravo usando milícias particulares fortemente armadas, que assassinam impunemente e juram de morte os que ousam defender os explorados. São esses empresários que são contemplados com medidas provisórias do presidente Lula, que legaliza ilegitimamente a grilagem das terras devolutas em até 1.500 hectares (correspondentes a fazendas de 630 alqueires paulistas cada uma), enquanto não tem terras para a reforma agrária.
As empresas produtoras de celulose infestam nossas terras com eucalipto, altamente danoso à qualidade das terras brasileiras e sugador das águas potáveis, destruindo nossas matas ainda nativas e que estão resguardadas por lei de proteção ambiental; ocupam terras de colonos, posseiros e nações indígenas, expulsando-as de suas legítimas propriedades; ao lado de mineradoras, vão impondo aos nossos "governantes" - na maioria das vezes em troca de apoio financeiro para suas campanhas eleitorais – autorização para a construção de enormes barragens para a produção de energia elétrica, visando unicamente o funcionamento de suas empresas predatórias e com isso permitindo outro crime hediondo: a invasão das terras dos proprietários que estão instalados, há dezenas de anos, às margens desses rios, jogando-os no desespero e revolta.
Quantos outros fatos poderíamos acrescentar a esta modesta lista? O que não falar do caso das privatizações da Vale do Rio Doce, da CSN, da Petrobrás, dos bancos estatais, das empresas de eletricidade e telefonia, da tentativa de privatização das linhas de Metrô e do fornecimento de água; da precarização da educação e da saúde públicas?
Porém, depois de um longo período de sonolência e acomodação, porque inebriados pela eleição de um operário como presidente da República, os movimentos sociais vão dando sinais de superação desse estado de letargia e começam a arregaçar suas manguinhas. É o caso do movimento desencadeado pela Via Campesina e pela Assembléia Popular, ocupando o prédio da Votorantim; dos vários movimentos sociais fazendo manifestações contra esse avanço criminoso das multinacionais predadoras e larápias das nossas riquezas e economias; do bloqueio da ferrovia da Vale, pelo que ela significa de desastre ecológico, roubo do patrimônio público, assim como para exigir indenização das famílias que tiveram pessoas mortas ou mutiladas pelos trens dessa empresa; das mobilizações pela interrupção da transposição do Rio São Francisco e das barragens danosas ao meio ambiente; das ocupações de prédios ociosos pelos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; das ocupações das terras devolutas e griladas pelos Sem Terra; da luta pública contra os desmandos da empresa Aracruz, usurpadora das terras indígenas.
Pena que o movimento pela redução da jornada de trabalho, lançado pela CUT, Força Sindical e CGT, fique apenas na frágil e enganosa coleta de assinaturas, sem, porém, a correspondente mobilização das bases operárias, estas sim capazes de se impor pela sua força produtiva, porque patrão e governo não cedem nada a não ser com a paralisação da produção capitalista e com o enfrentamento público. Mas isto essas centrais não vão fazer, porque suas direções estão vendidas ao capital e com ele mancomunadas.
"A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores", ou não haverá emancipação.

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Irlandeses escrevem direito por linhas tortas

GANHÁMOS.
O povo irlandês deu uma lição ao euro-burocratas que recusaram a opinião dos povos. É absolutamente extraordinário que depois das imensas jogadas, contra-jogadas, avanços e recuos, viragens à direita depois de anteriores viragens à direita, manipulação da informação à escala europeia, demagogia correndo maior do que rios em inverno, milhares de artigos em revistas e jornais (...) a linha direitista e antidemocrata da UE tenha perdido o referendo na Irlanda.
Agora, sem plano B, o Tratado de Lisboa ( o tal da carreira de Sócrates) está anulado politicamente porque teria que ser aprovado pelos 27.
Os euro-burocratas dizem que as ratificações continuarão - sem referendos em mais nenhum país. Pelos vistos irão proceder, a exemplo de casos anteriores, a uma enorme chantagem sobre a Irlanda e montar uma espécie de negociações que permita um novo referendo.
Vamos ver.
Para já celebremos. GANHÁMOS.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Camionistas: Sindicato contra, PCP a favor, especulação a ganhar!

A paralisação decretada pelos patrões dos camionistas, percebendo-se maioritariamente pequenos empresários a serem entalados na crise d0s combustíveis, levou Vitor Pereira dirigente da Federação Sindical dos Transportes - afecta à CGTP - a dizer: "Não é possível os patrões fazerem greve, é uma violação à Constituição da República e uma negação do direito ao trabalho que os motoristas devem denunciar", (...) "os motoristas "estão a ser usados pelos patrões em lutas que não são suas".
Já o comunicado emitido em pcp.pt diz que "o PCP considera que está colocada ainda com maior exigência uma pronta intervenção do governo que dê resposta às justas reivindicações deste sector (...)".
Ora a coisa parece que não bate certa.
O Sindicato faz muito bem em denunciar a exploração dos camionistas, os horários muito longos que levam a acidentes frequentes, os salários pagos em comissões e ajudas de custo que são retiradas se os trabalhadores refilam, a precariedade no trabalho... e faz muito bem em se posicionar contra lookouts - mas é uma verdade que as pequenas empresas estão a sofrer mais agudamente com a crise e os grandes empresários até podem estar satifeitos com a falência dos pequenos.
Mas as justas reinvindicações do sector não são todas justas. A redução dos impostos sobre os combustíveis levará a que outros pagarão esse valor. E esses outros serão os trabalhadores. A solução passa, entre outras coisas, por atacar os lucros das multinacionais e atacar o modelo de formação de preços. E é claro que uma GALP nacionalizada poderia ter outro papel na crise.

Ler interessante dossier aqui

Conferência da FAO - uma mão cheia de nada

Um artigo publicado no Correio da Cidadania dá conta do assunto:
http://www.oamador.com/wp-content/uploads/2007/10/fome.jpg
FAO: mais livre comércio, mais fome
Escrito por Esther Vivas
10-Jun-2008

No Dia 5 de maio, terminou a Cúpula de Alto Nível sobre Segurança Alimentar da FAO (Organização para Alimentação e Agricultura da ONU), que foi celebrada neste dias em Roma. As conclusões do encontro não indicam uma mudança de tendência nas políticas que vêm sendo aplicadas nos últimos anos e que têm conduzido à situação de crise atual.
As declarações de boas intenções e as promessas de milhões de Euros para acabar com a fome no mundo realizadas por vários governantes não vão pôr fim às causas estruturais que têm gerado essa crise. Além disso, as propostas realizadas pelo Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, de aumentar em 50% a produção de alimentos e rechaçar as limitações impostas à exportação por parte de alguns países afetados parecem reforçar mais as causas da crise do que conduzir a saídas reais que garantam a segurança alimentar da maioria das populações no Sul.
O monopólio de determinadas corporações multinacionais de cada um dos trechos da cadeia de produção de alimentos, desde as sementes passando pelos fertilizantes até a comercialização e distribuição do que comemos, é algo que não se tratou nessa cúpula. No entanto, e apesar da crise, as principais companhias de sementes, Monsanto, DuPont e Syngenta, reconheceram um aumento crescente de seus lucros e o mesmo ocorreu com as principais indústrias de fertilizantes químicos. As maiores empresas processadoras de alimentos como Nestlé ou Unilever também anunciaram um aumento em seus lucros, embora abaixo dos lucros das empresas que controlam os primeiros trechos da cadeia. Do mesmo modo, as grandes distribuidoras de alimentos como Wal-Mart, Tesco ou Carrefour afirmam seguir aumentando seus lucros.
Os resultados da cúpula da FAO refletem o consenso alcançado entre a ONU, o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para manter políticas econômicas e comerciais de dependência Sul-Norte e de apoio às multinacionais da agroalimentação. As recomendações lançadas a favor de uma maior abertura dos mercados no Sul, de subsidiar as importações de alimentos a partir da ajuda ao desenvolvimento e a aposta por uma nova revolução verde apontam nesta direção.
Aqueles que trabalham e cultivam a terra, nas mãos de quem deveria estar nossa alimentação, os camponeses e as camponesas, foram excluídos do debate. Quando representante de organizações camponesas tentaram apresentar suas propostas, coincidindo com a abertura oficial da cúpula, foram retirados à força. Em reuniões anteriores de alto nível, havia sido permitida uma maior participação dos coletivos sociais e agora, diante da gravidade da situação, as portas se mantiveram fechadas, como denunciou a rede internacional Via Campesina.
Acabar com a situação de crise implica pôr um fim no modelo de agricultura e de alimentação atual que coloca os interesses econômicos de grandes multinacionais acima das necessidades alimentares de milhões de pessoas. É necessário abordar as causas estruturais: as políticas neoliberais que vêm sendo aplicadas de forma sistemática nos últimos 30 anos, promovidas pelo BM, FMI, e pela Organização Mundial do Comércio (OMC), com os Estados unidos e a União Européia à frente. Políticas que significam liberalização econômica em escala global, abertura sem freio dos mercados, privatização de terras dedicadas ao abastecimento local e sua reconversão em monocultivos de exportação, conduzindo-nos à grave situação de insegurança alimentar atual. Segundo o BM, calcula-se que a cifra de 850 milhões de pessoas que hoje padecem de fome aumentará nos próximos anos até 950.
A saída para a crise passa por regular e controlar o mercado e o comércio internacional; reconstruir as economias nacionais; devolver o controle da produção de alimentos às famílias camponesas e garantir seu acesso livre à terra, às sementes, à água; tirar a agricultura dos tratados de livre comércio e da OMC; e pôr um fim na especulação com a fome.
O mercado não pode resolver o problema. Diante das declarações do número dois da FAO, José Maria Sumpsi, afirmando que se trata de um problema de oferta e de demanda, devido ao aumento do consumo em países emergentes como Índia, China ou Brasil, há de se lembrar que nunca antes se havia dado uma maior produção de comida no mundo.
Hoje se produz três vezes mais que nos anos sessenta, enquanto a população mundial somente duplicou desde então. Não há uma crise de produção de alimentos e sim uma impossibilidade de acesso aos mesmos por parte de amplas populações que não podem pagar os preços atuais. A solução não pode ser mais livre comércio porque, como se tem demonstrado, mais livre comércio implica mais fome e menor acesso aos alimentos. Não se trata de colocar mais lenha na fogueira.

Tradução: ADITAL

domingo, 8 de junho de 2008

sábado, 7 de junho de 2008

Portugal o mais afectado pelas deslocalizações


A treta dos salários baixos para a competitividade somou mais uma derrota. O DN, de sexta, traz a notícia de que Portugal foi o país, da UE, mais afectado por deslocalizações de empresas. A notícia, com origem no relatório (aqui em inglês) da Eurofound refere que as deslocalizações se fizeram para o Leste a a Ásia e que, em Portugal, 50% eram do sector automóvel.

Apesar da determinante salarial nas opções de deslocalização, o facto de Portugal ser o país mais atingido da UE só prova que o modelo de desenvolvimento de restrição salarial que já vem da época salazarista não tem as capacidades competitivas que lhe atribuem.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Vamos continuar a desgastar o governo!

Mais de 200.000 pessoas na rua demonstram bem a oposição à política do governo e muito em particular às propostas de leis de trabalho. O governo diz que se manterá firme. Nós também. Sabemos que o movimento se exprime aos picos, mas também que esta política neoliberal - agora com mais demagogia pelos probezinhos e precários - vai continuar a pôr mais lenha na fogueira. E quando assim é começamos a aspirar a uma luta maior.
Carvalho da Silva já anunciou manifestações para dia 28. Vamos todos ajudar a mobilizar!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Alegre, o BE e o PCP


O comício festa que juntou alegristas, renovadores, católicos, independentes de esquerda e bloquistas trouxe uma novidade à luta política. Essa novidade é uma conjugação de protestos contra a política do governo. É uma novidade positiva, porque expressa a procura de uma abertura anti-neoliberal no momento em que este governo se deitou na cama para satisfazer as necessidades da burguesia.

Tal como outros PSs europeus, e outros da Internacional Socialista, o PS português assumiu o plano conservador: a guerra, a destruição dos direitos sociais e do trabalho, a destruição dos serviços públicos - em nome da sua defesa - para garantir a acumulação rápida de capital e a destruição do papel social do Estado. Essa política conduziu-os à derrota. E aqueles que a eles se lhes juntaram, como em tempos o PCFrancês e agora o PCdeI e a Refundação Comunistas, foram deitados fora com eles. Desorientaram as massas e abriram as portas à direita e à extrema-direita. Agora foram arreados do poder em toda a Europa menos, por enquanto, na Espanha e Portugal.

O PCP ficou de fora. Não tem de que se queixar. O PCP decidiu - e isso é uma escolha que só a si compete - seguir uma via própria, de afirmação própria, de acção sem alianças. Inclusivamente o PCP procurou reduzir essas alianças no movimento sindical, alterando a táctica de Álvaro Cunhal de direcção por presença orgânica mais influência, por direcção por presença orgânica maioritária. O que se passou nos sindicatos de professores é bem elucidativo. Se se respeita que o PCP faça uma manifestação própria de rua tal respeito terá que ser endereçado aos que fazem outras escolhas. A boca dos falantes é, pois, de mau gosto e só demonstra "dor de cotovelo". Mais, o que é preciso é cada vez mais falantes contra as políticas neoliberais - e se esses falantes vierem de dentro do PS ainda melhor.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Esquerda haitiana exige saída das tropas "lulistas"

Carta aberta ao Sr. Ignácio Lula da Silva
Presidente do Brasil
Porto-Príncipe, HAITÍ
Quarta-feira, 28 de maio de 2008

Senhor Presidente,

O senhor terá notado que sua visita de hoje, 28 de maio de 2008, não recebeu as boas-vindas daquela de 2006 quando, acompanhado da “seleção”, enlouquecia a meio mundo, tratando de fazer-nos crêr que a lua é um queijo.

É que, na realidade, as máscaras caíram. Primeiro, pelo rotundo fracasso da MINUSTAH com respeito aos objetivos do próprio Conselho de Segurança da ONU em maio de 2004. Em seguida, porque já mais ninguém crê na “desinteresada ajuda” dessa missão. Nós entendemos de imediato os “subjacentes” desta “benevolência”. A vinda do filho do vice-presidente Alencar, proprietário da indústria têxtil mais importante do Brasil, a localizar as zonas francas e verificar com seus próprios olhos nossa famosa “mão de obra mais barata”, acabou de abrir-nos os olhos. Hoje, estão igualmente de visita uns capitalistas, seguramente ávidos eles também de apostar neste “ouro vivo”: vão se precisando os objetivos.

Mas há mais. O povo inteiro experimentou o comportamiento tanto dos altos responsáveis da missão, cobrando uma dinheirada - neste país tão desprovisto de tudo -, como o dos militares: a repressão nos bairros populares já não se demonstra, ao igual que a arrogância dos chefes em comando, ou a atitude dos soldados encaramujados em seus tanques, metralhadoras sempre apontadas à nossa frente, os quais, aproveitando-se da situação de dominação que instalam, cometem violações e outras exações que não têm nome… ou o terror semeado durante os últimos acontecimientos. O fundo e a forma já não deixam pois nenhuma dúvida: obviamente se trata de uma tutela armada, de uma ocupação, que a suposta “ajuda sul-sul” (que não é mais que uma solidaridade entre classes dominantes de país a país sob direção dos rapaces multinacionais) já não consegue enganar mais.

Como tudo isto foi tão longe? Como a revolução mais extraordinária do continente pôde dar à luz a tal profunda humilhação? Como governos resultantes das lutas dos trabalhadores e das mobilizações populares puderam chegar a jogar conscientemente o papel tão degradante de executor dos planos imperialistas? Tratamos de explicar-se-lo no texto adjunto “Todas as roupagens da mentira”, que diz, expõe a lógica de tal sentença, e os reais objetivos do projeto imperialista-burgués de exploração ilimitada. E o papel que ali lhe toca ao senhor. Rechaçando sua “ajuda” tal como a concebe e repudiando totalmente a presença de suas tropas armadas, termina preconizando que outra cooperação é possível “…que unificaría todos os operários, todos os trabalhadores e todos os povos, natural e fundamentalmente irmãos; na agricultura, na medicina, na construção de suas cidades, nos risos francos, nas danças e cantos então liberados, na produção coletiva e nos intercâmbios iguais.”.

Assim, senhor presidente, considerando que a presença das forças de ocupação da ONU no Haití constituem uma gigantesca bofetada no povo haitiano e em nossos ancestrais que lutaram para deixar-nos um território liberado de toda dominação extrangeira: em nome desta luta contra a dominação, em nome do direito à autodeterminação do povo haitiano, em nome do direito à vida de toda a gente caída sob as balas criminosas dos seus soldados nos bairros populares, mas também com o mesmo sentimento que o ajudou a declarar não grata a quarta frota estadunidense nos portos do seu país; e considerando a necessidade de establecer uma cooperação horizontal entre os povos do sul onde não existiria explotação, lhe requeremos, Sr. Presidente, proceder de imediato a retirada de suas tropas armadas de nosso país.

Yannick ETIENNE - Batay Ouvriye [Batalha Operária]

Camille CHALMERS - Plateforme Haïtienne pour un Droit Alternatif [Plataforma Haitiana por um Direito Alternativo]

Marc-Arthur FILS-AIMÉ - Institut Culturel Karl Lévêque [Instituto Cultutal Karl Lévêque]

Guy NUMA - Mouvman Demokratik Popilè [Movimento Democrático Popular]

Ps.: Queríamos entregar-lhe esta carta em mãos próprias: a polícia nacional, que está sob o comando de seus militares, nos proibiu categoricamente toda aproximação e qualquer manifestação de livre opinião.

domingo, 1 de junho de 2008

A conspiração dos iguais e o 1º comunista da história


Gracchus Babeuf
Povo da França!

Durante perto de vinte séculos viveste na escravidão e foste por isso demasiado infeliz. Mas desde há seis anos que respiras afanosamente na esperança da independência, da felicidade e da igualdade.

A igualdade! - primeira promessa da natureza, primeira necessidade do homem e elemento essencial de toda a legítima associação! Povo da França, tu não ficaste mais favorecido do que as outras nações que vegetam sobre esta mísera terra! Sempre e em qualquer lado, a pobre espécie humana, vítima de antropófagos mais ou menos astutos, foi joguete de todas as ambições, pasto de todas as tiranias. Sempre e em qualquer lado se adulou os homens com belas palavras, mas nunca e em lugar nenhum obtiveram eles aquilo que, através das palavras, lhes prometeram. Desde tempos imemoriais se vem repetindo hipocritamente: os homens são iguais. Mas desde há longo tempo que a desigualdade mais vil e mais monstruosa pesa insolentemente sobre o gênero humano.

Desde a própria existência da sociedade civil, o atributo mais belo do homem vem sendo reconhecido sem oposição, mas nem uma só vez pôde ver-se convertido em realidade: a igualdade nunca foi mais do que uma bela e estéril ficção da lei. E hoje, quando essa igualdade é exigida numa voz mais forte do que nunca, a resposta é esta: "Calai-vos, miseráveis! A igualdade não é realmente mais do que uma quimera; contentai-vos com a igualdade relativa: todos sois iguais em face da lei. Que quereis mais, miseráveis?" Que mais queremos? Legisladores, governantes, proprietários ricos; é agora a vossa vez de nos escutardes.

Todos somos iguais, não é verdade? Este é um princípio incontestável, porque ninguém poderá dizer seriamente, a não ser que esteja atacado de loucura, que é noite quando se vê que ainda é dia. Pois bem, o que pretendemos é viver e morrer iguais já que como iguais nascemos: queremos a igualdade efetiva ou a morte.

Não importa qual o preço, mas havemos de conquistar essa igualdade real. Ai daqueles que se interponham entre ela e nós! Ai de quem se oponha a um juramento formulado desta forma!

A Revolução Francesa não é mais do que a vanguarda de outra revolução maior e mais solene: a última revolução.

O povo passou por cima dos corpos do rei e dos poderosos coligados contra ele; e assim acontecerá com os novos tiranos, com os novos tartufos políticos sentados no lugar dos velhos.

De que mais precisamos além da igualdade de direitos?

Temos apenas necessidade dessa igualdade, da qual resulta a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão: queremos vê-la entre nós, sob o teto das nossas casas. Estamos dispostos a tudo, a fazer tábua-rasa de tudo o mais, apenas para conservar a igualdade. Pereçam, se for necessário, todas as artes, desde que se mantenha de pé a igualdade real!

Legisladores e governantes, com tão pouco engenho como boa fé, proprietários ricos e sem coração, em vão tentais neutralizar a nossa sagrada missão dizendo: "Eles não fazem mais do que reproduzir aquela lei agrária exigida já por diversas vezes no passado".

Caluniadores, calai-vos pela vossa parte e, em silêncio de confissão, escutai as nossas pretensões, ditadas pela natureza e baseadas na justiça.

A lei agrária, ou a divisão da terra, foi aspiração momentânea de alguns soldados sem princípios, de algumas populações incitadas pelo seu instinto mais do que pela razão. Nós temos algo de mais sublime e de mais eqüitativo: o bem comum, ou a comunidade de bens! Nós reclamamos, nós queremos desfrutar coletivamente dos frutos da terra: esses frutos pertencem a todos.

Declaramos que, posteriormente, não poderemos permitir que a imensa maioria dos homens trabalhe e esteja ao serviço e ao mando de uma pequena minoria.

Há muito tempo já que menos de um milhão de indivíduos tem vindo a dispor de quanto pertence a mais de vinte milhões de semelhantes seus, de homens que são em tudo iguais a eles.

Devemos pôr termo a este grande escândalo, que os nossos netos não quererão acreditar possa ter existido! Devemos fazer desaparecer, finalmente, essas odiosas distinções de classes entre ricos e pobres, entre grandes e pequenos, entre senhores e servos, entre governantes e governados.

Que entre os homens não exista mais nenhuma diferença do que aquela que lhes é dada pela idade e pelo sexo. E, porque todos temos as mesmas necessidades e as mesmas faculdades, que exista, portanto, uma única educação para todos e um idêntico regime de alimentação. Toda a gente se sente satisfeita por dispor do sol e do mesmo ar que respira. Porque não há de acontecer o mesmo com a quantidade e a qualidade dos alimentos?

Mas é verdade que já os inimigos da ordem de coisas mais natural que imaginar se possa protestam e clamam contra nós.

Desorganizadores e facciosos, dizem-nos eles, vós só desejais que exista anarquia e massacre.

Povo da França!

Não desejamos perder tempo a responder a esses senhores, mas a ti dizemos-te: a sagrada tarefa em que estamos empenhados não tem outro objetivo que não seja pôr termo às lutas civis e à miséria pública.

Nunca foi concebido e posto em execução um plano mais vasto do que este. De vez em quando, alguns homens de talento, homens inteligentes, falaram em voz baixa e temerosa desse plano. Mas nenhum deles, claro, teve a coragem necessária para dizer toda a verdade.

Chegou a hora das grandes decisões. O mal encontra-se no seu ponto culminante, está a cobrir toda a face da terra. O caos, sob o nome de política, há já demasiados séculos que reina sobre ela. Que tudo volte, pois, a entrar na ordem exata e que cada coisa torne a ocupar o seu posto. Ao grito de igualdade, os elementos da justiça e da felicidade estão a organizar-se. Chegou o momento de fundar a República dos Iguais, este grande refúgio aberto a todos os homens. Chegaram os dias da restituição geral. Famílias sacrificadas, vinde todas sentar-vos à mesa comum posta para todos os vossos filhos.

Povo da França!

A ti estava, pois, reservada a mais esplendorosa de todas as glórias! Sim, tu serás o primeiro que oferecerá ao Mundo este comovedor espetáculo.

Os hábitos inveterados, os antigos preconceitos, farão novamente tudo para impedir a implantação da República dos Iguais. A organização da igualdade efetiva, a única que satisfaz todas as necessidades sem provocar vítimas, sem custar sacrifícios, talvez em princípio não agrade a todos. Os egoístas, os ambiciosos, rugirão de raiva. Os que conquistaram injustamente as suas possessões dirão que está a cometer-se uma injustiça em relação a eles. Os prazeres individuais, os prazeres solitários, as comodidades pessoais, serão motivo de grande pesar para os indivíduos que sempre se caracterizaram pela sua indiferença ante os sofrimentos do próximo. Os amantes do poder absoluto, os miseráveis partidários da autoridade arbitrária, baixarão pesarosos as suas soberbas cabeças perante o nível da igualdade real. A sua visão estreita dificilmente penetrará no próximo futuro da felicidade comum. Mas que podem fazer alguns milhares de descontentes contra uma massa de homens completamente satisfeitos de terem procurado durante tanto tempo uma felicidade que sempre tiveram à mão?

Logo que se verificar esta autêntica revolução, estes últimos, estupefatos, dirão uns aos outros: "Como custava tão pouco conseguir a felicidade comum! Era necessário apenas ter o desejo de alcançá-la. E por que não fizemos isso há mais tempo?" Será preciso repetir sempre uma e outra vez? Sim, sem dúvida, basta que sobre a terra um homem seja mais rico e mais poderoso do que os seus semelhantes, do que os seus iguais, para que o equilíbrio se quebre e o crime e a desgraça invadam o Mundo.

Povo da França!

Quais os sinais que nos permitem reconhecer as qualidades de uma Constituição? Aquela que se apóia integralmente sobre a igualdade é, na realidade, a única que te convém, a única que satisfaz as tuas aspirações.

As cartas aristocráticas dos anos 1791 e 1795, em vez de romper as tuas cadeias, vieram consolidá-las. A de 1793 supôs ser um grande passo no sentido da igualdade real, mas não conseguiu todavia esse objetivo e não apontou diretamente para a igualdade comum, embora consagrasse solenemente o grande princípio dessa igualdade.

Povo da França!

Abre os olhos e o coração para a plenitude da felicidade; reconhece e proclama conosco a República dos Iguais.

[1796]

Gracchus Babeuf (1760-1797) foi o primeiro comunista da história.