segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Notas de observação sobre a expulsão de Luísa Mesquita


A expulsão de Luísa Mesquita foi, e ainda é, motivo de conversa em blogues, sites, partidos, corredores, ruas…
Luísa Mesquita é uma deputada conceituada no seu distrito. Muitos entendem-na como competente, combativa, determinada. Outros como sectária e agressiva.
Muitos opinam pelo seu apego aos lugares e recordam a sua primeira candidatura à Câmara de Santarém: substituiu um candidato já anunciado publicamente, Vicente Batalha, com o argumento de saúde deste. Poderá ter sido, mas todos ficaram a achar que tinha a ver com as divergências que este tinha, pouco antes, manifestado face ao PCP.
Muitos opinam pela sua batalha em defesa do Alviela, outros acham que é abuso acumular durante cerca de 10 anos o lugar de vereadora com o de deputada.
Portanto, argumentos no “prós e contras” não faltam.
Mas será que é verdadeiramente isso que está em causa?
A renovação de personagens políticas é uma coisa positiva. Muitos elogiam a renovação parlamentar feita com novos deputados; em contraponto, vários presidentes de câmara estão há quase 30 anos nos lugares. A “truculência” com os presidentes de Câmara da Marinha Grande ou de Setúbal, tem contraponto com a persistência de Odete Santos em manter-se deputada ou António Ganhão e Maria Emília como presidentes de Câmara.
A ética e a renovação podem ser alcandoradas a declarações televisivas ou intervenções de tribuna inflamadas – mas é como o bumerangue, voltam sempre ao local de partida.
Mas o que talvez possa suscitar uma reflexão pró-marxista mais interessante seja sobre o trato político de um Partido Comunista com os seus militantes. Luísa Mesquita tinha uma responsabilidade para com o PCP que não cumpriu. Mas será que hoje estes problemas políticos – mesmo que de “oportunismos partidários ou defesa de tacho” podem hoje ser tratados com medidas administrativas? Será que assim as coisas não tendem a cair para os que estão pelo Partido, pelo respeito do colectivo ou do centralismo democrático, enquanto do outro lado ficam, cada vez mais, os traidores e os vendidos aos lugares?
Neste caso pode não haver vitoriosos; Luísa Mesquita e a Direcção do PCP podem ser perdedores na imagem pública. Não porque os órgãos de informação, profusamente dotados de escribas reaccionários, ponham setinhas para baixo consoante as simpatias ou os humores dos ditos escribas, mas porque a política e a luta política tem que ser feita assim mesmo. E muitas vezes é preciso saber recuar, procurar novas agendas políticas e novos protagonistas para essas agendas.
O centralismo democrático, inspirador das decisões administrativas, está hoje desactualizado da realidade contemporânea. O modelo de organização leninista de partido está ultrapassado pelas novas formas de produção, comunicação e organização do estado burguês.
A uma nova realidade, dialecticamente, precisamos de adoptar uma nova forma de organização. Com a política no comando.
Mas isso é o mais difícil.

3 comentários:

O Pinoka disse...

Luísa Mesquita conhece as regras perfeitamente, não tem de se lamentar. Quanto a derrotados penso que saem os dois, Luísa Mesquita e PCP.

Anónimo disse...

Queridos Amigos e, ou camaradas.
Sobre quem ganhou ou perdeu, e se tiver que haver um vencedor dentro do Partido, ele terá de ser sempre o"COLECTIVO"
Na política Nacional e Internacional é lógico que,tenhamos de saber recuar,mas, dentro do Partido? recuar perante a exigência de um militante?
Nem vou citar os estatutos!
Não podemos comparar, a função de um deputado, com a de um autarca, apesar de ambos serem importantes, eu admito que a função de um autarca pela sua especifidade, possa estar mais anos numa Autarquia mas,exigências tipo LM, nem pensar.
Atrevo-me a pensar que,perante a opinião pública a imagem do Partido sai reforçado,o Partido não é uma (empresa).
Desculpem o calor que possa transparecer das minhas palavras mas o respeito que nos merecem os camaradas que já não estão entre nós(falecidos)e cuja luta foi exencial para que hoje os comunistas mereçam o respeito de tantos trabalhadore e do Povo Português.
Um abraço do tamanho do mundo para todos
José Manangão

Anónimo disse...

A Luisa Mesquita esteve muito mal, e eu apesar de não nutrir qualquer tipo de simpatia pelo PCP e pelos seus métodos, tenho que lhes dar razão. Então assina um acordo e depois diz que isso não conta. Vamos ver, por exemplo, no Bloco de Esquerda, esse é um procedimento perfeitamente normal, o regime de rotatividade dos deputados..e isso é assumido de uma forma muito natural, até para impedir que haja apego aos cargos e ao mesmo tempo a possibilidade de formação de novos quadros. Pois claro.. aqui o PCP esteve bem.
Se devia ou não ter sido expuso isso já é outro assunto. Mas quem sou eu para me meter na vida interna de um partido que afinal não é o meu e com o qual apesar de tudo não me revejo.